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domingo, 4 de novembro de 2012

Desde o chão...


A pele porosa do silêncio

agora que a noite sangra nos pulsos

traz-me o teu rumor de chuva branca.


O verão anda por aí, o cheiro

violento da beladona cega a terra.

Cega também, a boca procura

trabalhos de amor. Encontra apenas

o nó de sombras das palavras.


Palavras... Onde um só grito

bastaria, há a gordura

das palavras. Palavras -

quando apetecem claridades súbitas,

o sumo estreme, a ponta extrema,

do teu corpo, arco, flecha,

corola de água aberta

ao fogo a prumo do meu corpo.


Do chão ao cume das colinas,

eis as areias. Cala-te.

Deita-te. Debaixo dos meus flancos.

A terra toda em cima. Agora arde. Agora...
.
.
.
Eugénio de Andrade...

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