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sábado, 24 de novembro de 2012

A Amizade e o Amor Segundo uma Lógica de Bazar...


Desconfia-se do que é dado e pesa-se o que se recebe.

A amizade e o amor parecem gerir-se, por vezes, segundo uma lógica de bazar.

Já nem é considerado má-educação perguntar quanto é que uma prenda custou.

Se esse preço é excessivo chega-se a dizer que não se pode aceitar.

Recusar uma dádiva é como chamar interesseiro ao dador.

É desconfiar que existe uma segunda intenção.

De qualquer forma, só quem tem medo (ou corre o risco) de se vender

pode pensar que alguém está a tentar comprá-lo.

Quem dá de bom coração merece ser aceite de bom coração.

A essência sentimental da dádiva é ultrajada pela frieza da avaliação.


A mania da equitatividade contamina os espíritos justos.

É o caso das pessoas que, não desconfiando de uma dádiva, recusam-se

a aceitar uma prenda que, pelo seu valor, não sejam capazes de retribuir.

Esta atitude, apesar de ser nobre, acaba por ser igualmente destrutiva, pois

supõe que existe, ou poderá vir a existir, uma expectativa de retribuição da

parte de quem dá.

Mas quem dá não dá para ser pago.

Dá para ser recebido.

Não dá como quem faz um depósito ou investimento.

O valor de uma prenda não está na prenda - está na maneira como é prendada.

Hoje em dia, com a filosofia energumenóide e pseudojusta que impera,

condensada no ditado ‹‹There is no such thing as a free lunch» é praticamente

impossível oferecer um almoço a alguém.

Todos os gestos de amor e de amizade são reduzidos ao valor de troca, a uma

mera transacção em que é tudo avaliado, registado, saldado, pago a meias e de

um modo geral discutido e destruído até estar esvaziado de significado...
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Miguel Esteves Cardoso...

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