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segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Já basta...


Escrevo para dizer

simplemente que já basta.

Basta de tanto milagre.


Basta de tudo o que a vida

inventou só pra me dar

com sua mão estrelada,

e continua a inventar

sem que eu lhe peça nem sonhe,

mas desponta a madrugada.


Basta da brisa chegando

bem cedinho, me chamando

para inaugurar o dia

na luz das ancas perfeitas

que em meu dorso se aconchegam.


Basta de paz dessa garça

que não mereço, mas pousa

de perfil, cheia de graça

na beirada da manhã.


Basta, vida, da encantada

candura que a moça amiga

sem me ver diz que perdura.

Basta das águas distantes

que de exílio naveguei

e me cobriram de limos

resplandecentes.


Já basta

da imensidão da memória

que, antiga e apenas acesa

por neurônios fatigados,

deu de crescer, se mostrar,

como menina enxerida,

trazendo, peitos floridos,

milagres da mocidade.


Chega de bençãos, de afagos,

de prêmios que mal me cabem.


Todo o meu sonho é quedar

(de tão bom, sonho que sonho)

com quem mal e bem me quer,

mas gosta de ser mulher

com seu viço de menina,

colo que sabe a bonina,

onde agasalho o meu sono.


Ela dizendo o meu nome,

como se fosse palavra

de sortilégio que acende

ternuras e borboletas

dançando no corpo dela.

Não há coração que aguente,

é demais felicidade!


Força é ceder aos limites

(culpa não tenho) do tempo

que o Livro dá para a vida

de um filho de Deus.


Já basta...
.
.
.
Thiago de Mello...

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