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sexta-feira, 30 de novembro de 2012
A Imortalidade...
Ser imortal é coisa sem importância.
Excepto o homem, todas as criaturas o são, porque ignoram a morte.
O divino, o terrível, o incompreensível, é considerar-se imortal.
Já notei que, embora desagrade às religiões, essa convicção é raríssima.
Israelitas, cristãos e muçulmanos professam a imortalidade,
mas a veneração que dedicam ao primeiro século prova que
apenas crêem nele, e destinam todos os outros, em número
infinito, para o premiar ou para o castigar.
Mais razoável me parece o círculo descrito por certas religiões do Indostão.
Nesse círculo, que não tem princípio nem fim, cada vida é uma consequência
da anterior e engendra a seguinte, mas nenhuma determina o conjunto...
Doutrinada por um exercício de séculos, a república dos homens imortais
tinha conseguido a perfeição da tolerância e quase do desdém.
Sabia que num prazo infinito ocorrem a qualquer homem todas as coisas.
Pelas suas passadas ou futuras virtudes, qualquer homem é credor de toda
a bondade, mas também de toda a traição pelas suas infâmias do passado
ou do futuro.
Assim como nos jogos de azar as cifras pares e ímpares permitem o equilíbrio,
assim também se anulam e se corrigem o engenho e a estupidez.
(...) Ninguém é alguém, um único homem imortal é todos os outros homens.
Como Cornelio Agrippa, sou deus, sou herói, sou filósofo, sou demónio e
sou o mundo, o que é uma forma cansativa de dizer que não sou.
(...) A morte (ou a sua alusão) torna os homens delicados e patéticos.
Estes comovem-se pela sua condição de fantasmas.
Cada acto que executam pode ser o último.
Não há um rosto que não esteja por se desfigurar como o rosto de um sonho.
Tudo, entre os mortais, tem o valor do irrecuperável e do perdido.
Entre os Imortias, pelo contrário, cada acto (e cada pensamento) é o eco
de outros que no passado o antecederam, sem princípio visível, ou o claro
presságio de outros que, no futuro, o repetirão até à vertigem.
Não há coisa que não esteja perdida entre infatigáveis espelhos.
Nada pode ocorrer uma só vez, nada é primorosamente gratuito.
O elegíaco, o grave, o cerimonial, não contam para os Imortais.
Homero e eu separamo-nos nas portas de Tânger.
Creio que não nos despedimos...
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Jorge Luís Borges...
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