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terça-feira, 27 de novembro de 2012

A plenos pulmões...


Primeira Introdução ao Poema


Caros

camaradas

futuros!


Revolvendo

a merda fóssil

de agora,

perscrutando

estes dias escuros,

talvez

perguntareis

por mim. Ora,

começará

vosso homem de ciência

afogando os porquês

num banho de sabença,

conta-se

que outrora

um férvido cantor

a água sem fervura

combateu com fervor.

Professor,

jogue fora

as lentes-bicicleta!

A mim cabe falar

de mim

da minha era.

Eu - incinerador,

eu - sanitarista,

a revolução

me convoca e me alista.

Troco pelo front

a horticultura airosa

da poesia -

fêmea caprichosa.

Ela ajardina o jardim

virgem

virgem

sombra

alfombra.

"É assim o jardim de jasmim,

o jardim de jasmim do alfenim".

Este verte versos feito regador,

aquele os baba,

boca em babador, -

bonifrates encapelados,

descabelados vates -

entendê-los,

ao diabo!,

quem há-de...

Quarentena é inútil contra eles -

mandolinam por detrás das paredes:

"Ta-ran-tin, ta-ran-tin,

ta-ran-ten-n-n...

Triste honra,

se de tais rosas

minha estátua se erigisse:

na praça

escarra a tuberculose;

putas e rufiões

numa ronda de sífilis.

Também a mim

a propaganda

cansa,

é tão fácil

alinhavar

romanças, -

Mas eu

me dominava

entretanto

e pisava

a garganta do meu canto.

Escutai,

camaradas futuros,

o agitador,

o cáustico caudilho,

o extintor

dos melífluos enxurros:

por cima

dos opúsculos líricos,

eu vos falo

como um vivo aos vivos.

Chego a vós,

à Comuna distante,

não como Iessiênin,

guitarriarcaico.

Mas através

dos séculos em arco

sobre os poetas

e sobre os governantes.

Meu verso chegará,

não como a seta

lírico-amável,

que persegue a caça.

Nem como

ao numismata

a moeda gasta,

nem como a luz

das estrelas decrépitas.

Meu verso

com labor

rompe a mole dos anos,

e assoma

a olho nu,

palpável,

bruto,

como a nossos dias

chega o aqueduto

levantado

por escravos romanos.

No túmulo dos livros,

versos como ossos,

se estas estrofes de aço

acaso descobrirdes,

vós as respirareis,

como quem vê destroços

de um arsenal antigo,

mas terrível.

Ao ouvido

não diz

blandícias

minha voz;

lóbulos de donzelas

de cachos e bandós

nao faço enrubescer

com lascivos rondós.

Desdobro minhas páginas

- tropas em parada,

e passo em revista

o front das palavras.

Estrofes estacam

chumbo-severas,

prontas para o triunfo

ou para a morte.

Poemas-canhões, rígida coorte,

apontando

as maiúsculas

abertas.

Ei-la,

a cavalaria do sarcasmo,

minha arma favorita,

alerta para a luta.

Rimas em riste,

sofreando o entusiasmo,

eriça

suas lanças agudas.

E todo

este exército aguerrido,

vinte anos de combates,

não batido.

eu vos dôo,

proletários do planeta,

cada folha

até a última letra.

O inimigo

da colossal

classe obreira,

é também

meu inimigo figadal.

Anos

de servidão e de miséria

comandavam

nossa bandeira vermelha.

Nós abríamos Marx

volume após volume,

janelas

de nossa casa

abertas amplamente,

mas ainda sem ler

saberíamos o rumo!

onde combater,

de que lado,

em que frente.

Dialética,

não aprendemos com Hegel.

Invadiu-nos os versos

ao fragor das batalhas,

quando,

sob o nosso projétil,

debandava o burguês

que antes nos debandara.

Que essa viúva desolada,

- glória -

se arraste

após os gênios,

merencória.

Morre,

meu verso,

como um soldado

anônimo

na lufada do assalto.

Cuspo

sobre o bronze pesadíssimo,

cuspo

sobre o mármore viscoso.

Partilhemos a glória, -

entre nós todos, -

o comum monumento:

o socialismo,

forjado

na refrega

e no fogo.

Vindouros,

varejai vossos lexicos:

do Letes

brotam letras como lixo -

"tuberculose",

"bloqueio",

"meretrício".

Por vós,

geração de saudáveis, -

um poeta,

com a língua dos cartazes,

lambeu

os escarros de tísis.

A cauda dos anos

faz-me agora

um monstro,

fossilcoleante.

Camarada vida,

vamos,

para diante,

galopemos

pelo quinquênio afora.

Os versos

para mim

não deram rublos,

nem mobílias

de madeiras caras.

Uma camisa

lavada e clara,

e basta, -

para mim é tudo.

Ao Comitê Central

do futuro

ofuscante,

sobre a malta

dos vates

velhacos e falsários,

apresento

em lugar

do registro partidário

todos

os cem tomos

dos meus livros militantes...
.
.
.
Vladimir Mayakovsky...

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