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quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Os Vários Tipos de Amor...


Parece-me que podemos, com maior razão,

distinguir o amor em função da estima que temos

pelo que amamos, em comparação com nós mesmos.

Pois quando estimamos o objecto do nosso amor menos

que a nós mesmos, temos por ele apenas uma simples afeição;

quando o estimamos tanto quanto a nós mesmos, a isso se chama

amizade; e quando o estimamos mais, a paixão que temos pode ser

denominada como devoção.

Assim, podemos te afeição por uma flor, por um pássaro,

por um cavalo; porém, a menos que o nosso espírito seja

muito desajustado, apenas por seres humanos podemos ter amizade.

E de tal maneira eles são objecto dessa paixão que não há

homem tão imperfeito que não possamos ter por ele uma amizade

muito perfeita, quando pensamos que somos amados por ele e quando

temos a alma verdadeiramente nobre e generosa.




Quanto à devoção, o seu principal objecto é sem dúvida a

soberana divindade, da qual não poderíamos deixar de ser

devotos quando a conhecemos como se deve conhecer.

Mas também podemos ter devoção pelo nosso príncipe, pelo

nosso país, pela nossa cidade, e mesmo por um homem particular

quando o estimamos muito mais que a nós mesmos.

Ora, a diferença que há entre esses três tipos de amor manifesta-se

principalmente pelos seus efeitos; pois, como em todos nos consideramos

juntos e unidos à coisa amada, estamos sempre dispostos a abandonar a

menor parte do todo que compomos com ela, para conservar a outra.

Isto leva-nos, na simples afeição, a sempre nos preferirmos ao que amamos;

e, na devoção, ao contrário, a preferirmos a coisa amada e não a nós mesmos,

de tal forma que não hesitamos em morrer para a conservar.

Frequentemente se viram exemplos disso, nos que se expuseram à morte

certa para defender o seu príncipe ou a sua cidade, e mesmo às vezes pessoas

particulares às quais se tinham devotado por inteiro...
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René Descartes, in 'As Paixões da Alma'...

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