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sexta-feira, 22 de junho de 2012

O céu jamais me dê a tentação funesta...(de Invenção de Orfeu)..


O céu jamais me dê a tentação funesta

de adormecer ao léu, na lomba da floresta,

onde há visgo, onde seca erva sucosa e fria,

carnívora decerto o sono nos espia.


Que culpa temos nós dessa planta da infânia,

de sua sedução, de seu viço e constância?


Minha cabeça estava em pedra, adormecida,

quando me sobreveio a cena pressentida.


Em sonâmbulo arriei as mãos e os pés culpados

dos passos e do gesto em vão desperdiçados.


Despi-me de outros bens, de glória mais modesta:

restava-me por fim a minha pobre testa

confundida com a pedra, em meio da floresta.

Que doces olhos têm as coisas simples e unas

onde a loucura dorme inteira e sem lacunas!

Agora posso ver as mãos entrecruzadas

e as plantas de meus pés nas entranhas amadas,

nesse início que é a clara insônia verdadeira.


Ó seres primordiais que sois testa e viseira,

restituo-me em vós, sangue e máscara vividos,

desejo de esquecer tempo e espaço existidos;

e em vós e em vossa paz meus solilóquios para-os,

penetro-me do Verbo em seus silêncios claros,

invisto-me de vós, vossa fronte me espia

através dessa pedra em que nasce o meu dia...
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Jorge de Lima...

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