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domingo, 24 de junho de 2012

As palavras e os nomes...


Me atordoam da mesma forma os místicos

e as lojas de roupa com seus preços.

O dente apodrece

sem que eu levante um dedo para salvá-lo,

já que escolhi o medo como meu deus e senhor.

Tem pó demais na prateleira dos livros

e livros em demasia

e cartas cheias de si me atravancando o caminho:

'Escrever para mim é uma religião'

Os escritores são insuportáveis,

menos os sagrados,

os que terminam assim as suas falas:

'Oráculo do Senhor'.

Eu fico paralisada

porque desejo a posse desse fogo

e a roupa de talhe certo,

com tecidos de além-mar.

Ai, nunca vou fazer 'cantar d'amigo'.

No entanto, como se eu fora galega,

na minh'alma arrulham pombas,

tem beirais, tem manhãzinhas,

costureirinhas, pardais.

Meu nome agora é nenhum,

diverso dos muitos nomes

que se incrustaram no meu,

Délia, Adel,Élia e Lia

e para desgraça minha

ainda Leda, Lea, Dália

Eda, Ieda e ainda Aia.

O melhor!

Aia, a criada de dama nobre,

a dama de companhia,

a que tem por ofício

anotar no papel a vida

espiar pela fresta

a ama gozando com o rei.

Borboleta, esta grafia,

este som é um erro

e os erros me interessam,

sacrifico as aranhas para saber de onde vêem.

A natureza obedece e é feliz,

a natureza só faz sua própria vontade,

não esborda de Deus.

Mas eu o que sou?
.
.
.
Adélia Prado...

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