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terça-feira, 26 de junho de 2012
Fim de mundo...
Como em dia qualquer, a vida avança.
Eis quando, sem motivo, se enfraquece
a rigidez geométrica do espaço.
Súbito o sol estanca o seu girar
e se eterniza em puro meio-dia.
Noites, contudo várias, simultâneas
irrompem dos abismos; outras luas
derramam seu palor - maciamente
o equilíbrio do mundo se desfaz.
Nenhum estrondo turva, todavia,
o sossego do mundo em seu desfecho,
e a paisagem terrestre pouco sofre.
Os templos não desabam, edifícios
permanecem erguidos, e das torres
a sombra invade a rua, cautelosa;
não se interrompe o florescer nos campos.
Apenas, vagarosa, já se escoa
dos seres a substância que os anima.
Os pássaros se esquecem dos seus cantos,
os cavalos, aflitos, se prosternam,
e dos olhos dos bois vai se apagando
a solene humildade; silenciosa
uma estéril brandura envolve as feras.
À terra o mar devolve os seus defuntos,
mas rejeita-os a terra. Já são muitos
aqueles que fugiram de seus túmulos
e em confusa linguagem se interpelam
ante o assombro do vivo face à morte.
O assombro mesmo é curto: se dissolve
quando o barro que deu aos seres forma,
e trânsito aos amores e desejos,
vazio dos adornos incorpóreos
então se abraça à argila primitiva.
Sobra dos homens algo sobre o mundo
- pasto do tempo: as vestes e os sapatos.
A pena de existir logo abandona
o murcho coração das criaturas
e vai pousar agreste sobre as pedras
e as pedras se interrogam, conturbadas.
O mistério da vida enfim se irmana
ao mistério da morte: assim fraternos
emigram do terreno, sobrepairam,
escarnecem dos seres dissipados
e aos poucos vão tecendo a nebulosa,
berço talvez do próximo universo...
.
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Thiago de Mello...
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