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sexta-feira, 29 de junho de 2012

Amar Bonito...


Talvez seja tão simples, tolo e natural que

você nunca tenha parado para pensar:

Aprendam a fazer bonito seu amor.

Ou fazer o seu amor ser ou ficar bonito.

Aprenda, apenas, a tão difícil arte de amar bonito.

Gostar é tão fácil que ninguém aceita aprender...

Tenho visto muito amor por aí.

Amores mesmo: bravios, gigantescos, descomunais,

profundos, sinceros, cheios de entrega, doação e dádiva.

Mas esbarram na dificuldade de se tornar bonitos.

Apenas isso: bonitos, belos ou embelezados, tratados com

carinho, cuidado e atenção.

Amores levados com arte e ternura de mãos jardineiras.

Aí, esses amores que são verdadeiros, eternos e descomunais,

de repente se percebem ameaçados e tão somente porque não

sabem ser bonitos: cobram, exigem, rotinizam,descuidam, reclamam,

deixam de compreender, necessitam mais do que oferecem, precisam

mais do que atendem, enchem-se de razões.

Sim, de razões.

Ter razão é o maior perigo no amor.

Quem tem razão sempre se sente no direito (e o tem)

de reivindicar, de exigir justiça, equidade, equiparação,

sem atinar que o que está sem razão talvez passe por um

momento de sua vida no qual não possa ter razão.

Nem queira!!!

Ter razão é um perigo: em geral, enfeia um amor, pois

 é invocado com justiça, mas na hora errada.

Amar bonito é saber a hora de ter razão.

Ponha a mão na consciência.

Você tem certeza de que está fazendo o seu amor bonito?

De que está tirando do gesto, da ação, da reação, do olhar, da

saudade, da alegria do encontro, da dor do desencontro a maior

beleza possível?

Talvez não.

Cheio ou cheia de razões, você separa do amor apenas aquilo

que é exigido por suas partes necessitadas, quando talvez dele

devesse pouco esperar, para valorizar melhor tudo de bom que

de vez em quando ele pode trazer.

Quem espera mais do que isso sofre e, sofrendo, deixa de amar bonito.

Sofrendo, deixa de ser alegre, igual, irmão, criança.

E sem soltar a criança, nenhum amor é bonito.

Não tema o romantismo. Derrube as cercas da opinião alheia.

Faça coroas de margaridas e enfeite a cabeça de quem você ama.

Saia cantando e olhe alegre.

Recomenda-se: encabulamentos, ser pego em flagrante

gostando, não se cansar de olhar e olhar, não atrapalhar

a convivência com teorizações, adiar sempre se possível

com beijos 'aquela conversa importante que precisamos

ter', arquivar, se possível, as reclamações pela pouca

atenção recebida.

Para quem ama, toda atenção é sempre pouca.

Quem ama feio não sabe que pouca atenção pode

ser toda a atenção possível.

Quem ama bonito não gasta tempo dessa atenção

cobrando a que deixou de ter.

Não teorize sobre o amor (deixe isso para nós, pobres escritores

que vemos a vida como criança de nariz encostado na vitrine cheia

de brinquedos dos nossos sonhos); não teorize sobre o amor, ame.

Siga o destino dos sentimentos aqui e agora.

Não tenha medo exatamente de tudo o que você teme, como:

a sinceridade, abrir o coração, contar a verdade do tamanho

do amor que sente; não dar certo e depois vir a sofrer

(sofrerá de qualquer jeito).

Jogue pro alto todas as jogadas, estratagemas, golpes, espertezas,

atitudes sabiamente eficazes (não é sábio ser sabido): seja apenas

você no auge de sua emoção e carência, exatamente aquele você

que a vida impede de ser.

Seja você cantando desafinado, mas todas as manhãs.

Falando besteiras, mas criando sempre.

Gaguejando flores.

Sentindo o coração bater como no tempo do Natal infantil.

Revivendo os caminhos que intuiu em criança.

Sem medo de dizer eu quero, eu estou com vontade.

Deixe o seu amor ser a mais verdadeira expressão de tudo que você é.

Se o amor existe, seu conteúdo já é manifesto.

Não se preocupe mais com ele e suas definições.

Cuide agora da forma do amor:

Cuide da voz.

Cuide da fala.

Cuide do cuidado.

Cuide de você.

Ame-se o suficiente para ser capaz de

gostar do amor e só assim poder começar

a tentar fazer o outro feliz...
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Artur da Távola...

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