Pesquisar este blog

Meus Vídeos...

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Tenho frio e ardo em febre!...


Tenho frio e ardo em febre!

O amor me acalma e endouda! O amor me eleva e abate!

Quem há que os laços, que me prendem, quebre?

Que singular, que desigual combate!

Não sei que ervada flecha

Mão certeira e falaz me cravou com tal jeito,

Que, sem que eu a sentisse, a estreita brecha

Abriu, por onde o amor entrou meu peito.


O amor me entrou tão cauto

O incauto coração, que eu nem cuidei que estava,

Ao recebê-lo, recebendo o arauto

Desta loucura desvairada e brava.


Entrou. E, apenas dentro,

Deu-me a calma do céu e a agitação do inferno...

E hoje... ai de mim!, que dentro em mim concentro

Dores e gostos num lutar eterno!


O amor, Senhora, vede:

Prendeu-me. Em vão me estorço, e me debato, e grito;

Em vão me agito na apertada rede...


Mais me embaraço quanto mais me agito!


Falta-me o senso: a esmo,

Como um cego, a tatear, busco nem sei que porto:

E ando tão diferente de mim mesmo,

Que nem sei se estou vivo ou se estou morto.


Sei que entre as nuvens paira

Minha fronte, e meus pés andam pisando a terra;

Sei que tudo me alegra e me desvaira,

E a paz desfruto, suportando a guerra.


E assim peno e assim vivo:

Que diverso querer! Que diversa vontade!

Se estou livre, desejo estar cativo;

Se cativo, desejo a liberdade!


E assim vivo, e assim peno:

Tenho a boca a sorrir e os olhos cheios de água;

E acho o néctar num cálix de veneno,

A chorar de prazer e a rir de mágoa.


Infinda mágoa! Infindo

Prazer! Pranto gostoso e sorrisos convulsos!

Ah! Como dói assim viver, sentindo

Asas nos ombros e grilhões nos pulsos!...
.
.
.
Olavo Bilac...

Nenhum comentário:

Postar um comentário