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domingo, 28 de outubro de 2012
Black & White...
Se
Havana
de relance distingues,
é um paraíso,
um país de verdade.
Sob as palmas,
numa só perna,
flamingos.
Flores
colorem
todo o Vedado.
Em Havana
tudo
é demarcado claramente:
aos brancos - dólares,
aos negros - nada.
Por isso, Willie pára
com a escova à frente
de "Henry Clay & Bock, Limitada".
Em sua vida
Willie
varreu quilos -
só de poeira
todo um vale.
Por isso
é ralo
o cabelo de Willie,
por isso
o ventre de Willie
é um valo.
De alegrias - só um escuro espectro;
seis horas
para tirar uma pestana,
se é que esse
ladrão,
o inspetor da aduana,
não lança de passagem
algum tostão
ao preto.
Como livrar-se de tanto lixo?
Só se
ele andasse
de cabeça para baixo.
Assim
amontoaria mais pó:
os cabelos são mil,
os pés
dois só.
Ao lado
passava
a elegante rua Prado.
Ali retinem,
ali ressoam
quilômetros de jazz.
Parece ao pobre preto
estuporado
que o velho paraíso
em Havana se refaz.
Poucas meandros,
há na sua mente,
poucos renovos,
pouca semente.
Uma coisa
somente
Willie aprendeu,
mais firme
que as pedras
da estátua de Maseo:
"Ao branco,
o ananás maduro,
ao preto,
o podre
- uma só lei.
Ao branco,
trabalho de rei,
ao preto,
trabalho duro".
Poucos problemas o torturam,
mas um
na cabeça
penetra como um prego.
E quabdo esse problema
o crânio lhe perfura,
a escova escorrega
das mãos do negro.
Como por acaso
numa dessas vezes
o rei dos charutos,
Mister Henry Clay,
recebe em sua casa,
mais alvo que uma nuvem,
o rei
de todos os açúcares, sua alvíssima alteza.
O negro
se acercou da mole branca:
"I beg your pardon, Mister Bregg!
Por que
o
açúcar
branco-branco
o negro-negro
tem de fazê-lo?
O charuto preto
não vai bem com seu cabelo,
combina é com o pêlo
negro de um negro.
E se o café
com açúcar
lhe apraz,
por que o sr. mesmo não o faz?"
Tal pergunta
não passou em branco.
O rei
de alvaiade
vira cor de bile.
Voltou-se a majestade
e de um tranco
lançou ambas as luvas
na face de Willie.
Floresciam
em volta
prodígios de botânica.
Bananeiras
teciam
tetos primaveris.
Limpou
o negro
em suas calças brancas
as mãos,
o sangue do nariz.
O negro resfolegou,
apalpou a confusão,
levantou a escova
e se calou.
Como saberia
que com tal questão
deveria dirigir-se
ao Komintern
em Moscou?...
.
.
.
Vladimir Mayakovsky...
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