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domingo, 28 de outubro de 2012

Poema de Natal ...


Para isso fomos feitos:

Para lembrar e ser lembrados,

Para chorar e fazer chorar,

Para enterrar os nossos mortos -

Por isso temos braços longos para os adeuses,

Mãos para colher o que foi dado,

Dedos para cavar a terra.

Assim será a nossa vida;

Uma tarde sempre a esquecer,

Uma estrela a se apagar na treva,

Um caminho entre dois túmulos -

Por isso precisamos velar,

Falar baixo, pisar leve, ver

A noite dormir em silêncio.

Não há muito que dizer:

Uma canção sobre um berço,

Um verso, talvez, de amor,

Uma prece por quem se vai -

Mas que essa hora não esqueça

E que por ela os nossos corações

Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:

Para a esperança no milagre,

Para a participação da poesia,

Para ver a face da morte -

De repente, nunca mais esperaremos...

Hoje a noite é jovem; da morte apenas

Nascemos, imensamente...
.
.
.
Vinícius de Moraes...

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