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domingo, 21 de outubro de 2012

A pequena praça...


A minha vida tinha tomado a forma da pequena praça.

Naquele outono em que a tua morte se organizava meticulosamente

Eu agarrava-me à praça porque tu amavas

A humanidade humilde e nostálgica das pequenas lojas

Onde os caixeiros dobram e desdobram fitas e fazendas

Eu procurava tornar-me tu porque tu ias morrer

E a vida toda deixava ali de ser a minha

Eu procurava sorrir como tu sorrias

Ao vendedor de jornais ao vendedor de tabaco

E à mulher sem pernas que vendia violetas

Eu pedia à mulher sem pernas que rezasse por ti

Eu acendia velas em todos os altares

Das igrejas que ficam no canto desta praça

Pois mal abri os olhos e vi foi para ler

A vocação do eterno escrita no teu rosto

Eu convocava as ruas os lugares as gentes

Que foram testemunhas do teu rosto

Para que eles te chamassem para que eles desfizessem

O tecido que a morte entrelaçava em ti...
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Sophia de Mello Breyner...

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