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domingo, 28 de outubro de 2012

Filosofia...


Mas que queremos da vida? É a vida? O

que se procura em cada segundo para se perder

em cada segundo? O tempo, assim, de nada

nos serve. Um dia, dando por nós próprios,

perguntamo-nos o que fizemos, por onde

andámos, que cidades e casas percorremos,

sem que nenhuma resposta nos satisfaça. A

vida, então, limita-se a ser o que fez

de nós, sem que o tenhamos desejado, e

nada pode ser feito para voltar atrás, nem

para restituir os passos trocados de

direcção, as frases evitadas no último

extremo, o olhar que se desviou quando

não devia. Ah, sim - e o amor? É isso

que queremos da vida? É verdade: cada um

dos abraços que se deram, contando cada

instante; o rosto lembrado no auge

do prazer, quando um súbito sol desponta

dos seus lábios; os cabelos presos

nas mãos, como se elas prendessem o feixe

da eternidade... Assim, a vida poderá

ter valido a pena. É o que fica: o que

nos foi dado e o que damos, sem que nada

nos obrigasse a dar ou a receber, o puro

gesto do acaso na mais absoluta das

obrigações. Então, volto a perguntar: que

outra coisa queremos da vida?...
.
.
.
Nuno Júdice...

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