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sábado, 20 de outubro de 2012

O torturado e seu torturador...


Apanhado em meio à noite,

jogado no chão da cela,

o corpo nu conhece

a primeira humilhação.

Outras virão: o soco,

o choque, a ameaça,

o urro na escuridão.


- Quantos volts

suporta o corpo

- em coação,

até que dele escorra o fel

da delação?


- O que procura o tortura/dor

nas pedras do rim alheio

como vil minera/dor?

-O que ama esse ama/dor

da morte?

esse morcego suga/dor

sob os porões da corte?

esse joga/dor

do jogo bruto?

e cria/dor

- do luto?



O torturador se sente, e acaso o é,

um trabalha/dor diferente:

seu trabalho é destruir

o sonha/dor insistente

como o médico que resolvesse

matar de dor

- o cliente

.
Sob a tortura

o que há de melhor no homem

jamais se manifesta. Quando muito

podeis catar no chão

o pouco que dele resta.

Mas soltai-o em festa, ao sol

e vereis que a verdade

de seus gestos se irradia.

Livre

vestindo a pele do dia,

o torturado caminha

com seu corpo tatuado

de violência e poesia.


Mas ele não marcha só.

Apenas segue na frente

na direção da utopia...
.
.
.
Affonso Romano de Sant'Anna...

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