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sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Caminhos de minha terra...


Caminhos inventados por quem não tem pressa de ir-se embora.

Pelos que vão à escola.

Pelos que vão à vila trabalhar.

Pelos que vão ao eito.

Pelos que deixam a terra como eu deixei um dia...

Pelos que levam quem se despede da vida que é tão bela...


À minha terra ninguém chega: ela é tão pobre.

Dizem que tem bons ares para os tísicos -

mas os tísicos não vão lá: é tão difícil ir-se lá...


Caminhos de minha terra onde perdi

os olhos e os passos da meditação...

Caminhos em que ceguinhos e aleijados podem

ir sem olhos e sem pernas: eles não atropelam

os pobrezinhos.

Alguém quer partir e eles dizem:

- não vás: toma lá uma goiaba madura,

um pitanga, uma ingá e dão como

as mãos dos missionários que dão tudo,

cajus, pitombas, araçás a todos os meninos do lugar.

Caminhos que ainda têm orvalhos e sonâmbulos bacuraus,

e têm ninhos suspensos nas ramadas.


Ali perto, na Curva do Encantado

onde mataram de emboscada um cangaceiro,

há uma cruz de pitombeira...

Quem passa joga uma pedra,

reza baixinho:

Padre Nosso que estais no céu

santificado seja o vosso nome

venha a nós...

Aquela cruz do cangaceiro é milagrosa,

já me curou dum puxado que

eu peguei na escola da professora -

minha tia Bárbara de Olivedo Cunha Lima -


Mundaú! - soube depois

que quer dizer rio torto.

Quem te inventou Mundaú, das minhas lavadeiras seminuas,

dos meus pescadores de traíras? -

Mundaú! - rio torto - caminho de curvas,

por onde eu vim para a cidade

onde ninguém sabe o que é caminho...
.
.
.
Jorge de Lima...

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