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quinta-feira, 18 de outubro de 2012

A lavadeira...


Essa Mulher...

Tosca.Sentada. Alheada...

Braços cansados

Descansando nos joelhos...

olhar parado, vago,

perdida no seu mundo

de trouxas e espuma de sabão

- é a lavadeira.


Mãos rudes, deformadas.

Roupa molhada.

Dedos curtos.

Unhas enrugadas.

Córneas.

Unheiros doloridos

passaram, marcaram.

No anular, um círculo metálico

barato, memorial.


Seu olhar distante,

parado no tempo.

À sua volta

- uma espumarada branca de sabão


Inda o dia vem longe

na casa de Deus Nosso Senhor

o primeiro varal de roupa

festeja o sol que vai subindo

vestindo o quaradouro

de cores multicores.

Essa mulher

tem quarentanos de lavadeira.

Doze filhos

crescidos e crescendo.


Viúva, naturalmente.

Tranqüila, exata, corajosa.


Temente dos castigos do céu.

Enrodilhada no seu mundo pobre.


Madrugadeira.


Salva a aurora.

Espera pelo sol.

Abre os portais do dia

entre trouxas e barrelas.


Sonha calada.

Enquanto a filharada cresce

trabalham suas mãos pesadas.


Seu mundo se resume

na vasca, no gramado.

No arame e prendedores.

Na tina d’água.

De noite – o ferro de engomar.


Vai lavando. Vai levando.

Levantando doze filhos

Crescendo devagar,

enrodilhada no seu mundo pobre,

dentro de uma espumarada

branca de sabão.


Às lavadeiras do Rio Vermelho

da minha terra,

faço deste pequeno poema

meu altar de ofertas...
.
.
.
Cora Coralina...

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