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sexta-feira, 5 de outubro de 2012
A impossível partida...
Como poder-te penetrar, ó noite erma,
se os meus olhos cegaram nas luzes da cidade
E se o sangue que corre no meu corpo
ficou branco ao contato da carne indesejada?…
Como poder viver misteriosamente
os teus recônditos sentidos
Se os meus sentidos foram murchando
como vão murchando as rosas colhidas
E se a minha inquietação iria temer a
tua eloqüência silenciosa?…
Eu sonhei!...
Sonhei cidades desaparecidas nos desertos pálidos
Sonhei civilizações mortas na contemplação imutável
Os rios mortos... as sombras mortas... as vozes mortas...
…o homem parado, envolto em branco
sobre a areia branca e a quietude na face...
Como poder rasgar, noite, o véu constelado
do teu mistério
Se a minha tez é branca e se no meu coração
não mais existem os nervos calmos
Que sustentavam os braços dos Incas horas
inteiras no êxtase da tua visão?...
Eu sonhei!...
Sonhei mundos passando como pássaros
Luzes voando ao vento como folhas
Nuvens como vagas afogando luas adolescentes...
Sons… o último suspiro dos condenados
vagando em busca de vida...
O frêmito lúgubre dos corpos penados
girando no espaço...
Imagens... a cor verde dos perfumes se
desmanchando na essência das coisas...
As virgens das auroras dançando suspensas
nas gazes da bruma
Soprando de manso na boca vermelha dos astros...
Como poder abrir no teu seio, oh noite erma,
o pórtico sagrado do Grande Templo
Se eu estou preso ao passado como a
criança ao colo materno
E se é preciso adormecer na lembrança boa
antes que as mãos desconhecidas me arrebatem?...
.
.
.
Vinicius de Moraes...
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