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segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Desterro...


Eu ia triste, triste, com a tristeza discreta dos fatigados,

com a tristeza torpe dos que partiram tendo despedidas,

tão preso aos lugares

de onde o trem já me afastara estradas arrastadas,

que talvez eu não estivesse todo inteiro presente

no horror dessa viagem.

Mas a minha tristeza pesava mais do que todos os pesos,

e era por causa de mim, da minha fadiga desolada,

que a locomotiva, lá adiante, rídicula e honesta, bracejava,

puxando com esforço vagões quase vazios,

com almas cheias de distância, a penetrar no longe.

A tarde subiu do chão para a paisagem sem casas,

e o comboio seguia,

cada vez mais longe, mais fundo, a terra mais vermelha,

o esforço maior, as montanhas mais duras,

como sabem ser duros os caminhos,

pelos quais a gente vai, só pensando na volta...

Coagulada em preto,

a noite isolou as cousas dentro da tarde,

e o barulho do trem foi um rumor de soçobro

no fundo de um mar sem tona.

Nem mesmo foi a noite: foi a ausência

brusca e absurda do dia.

Tão definitiva e estranha, que eu me alegrei, esperando

o não continuar da vida,

o não-regresso da luz, o não-andar mais do trem...
.
.
.
Guimarães Rosa...

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