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terça-feira, 25 de setembro de 2012

Crise lamentável...


Gostava tanto de mexer na vida,

De ser quem sou - mas de poder tocar-lhe...

E não há forma: cada vez perdida

Mais a destreza de saber pegar-lhe.


Viver em casa como toda a gente

Não ter juízo nos meus livros - mas

Chegar ao fim do mês sempre com as

Despesas pagas religiosamente.


Não ter receio de seguir pequenas

E convidá-las para me pôr nelas

- À minha Torre ebúrnea abrir janelas,

Numa palavra, e não fazer mais cenas.


Ter força um dia pra quebrar as roscas

Desta engrenagem que empenando vai.

- Não mandar telegramas ao meu Pai,

- Não andar por Paris, como ando, às moscas.


Levantar-me e sair - não precisar

De hora e meia antes de vir prà rua.

- Pôr termo a isto de viver na lua,

- Perder a frousse das correntes de ar.


Não estar sempre a bulir, a quebrar coisas

Por casa dos amigos que frequento

-Não me embrenhar por histórias melindrosas

Que em fantasia apenas argumento


Que tudo em é fantasia alada,

Um crime ou bem que nunca se comete:

E sempre o oiro em chumbo se derrete

Por meu Azar ou minha Zoina suada...
.
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Mário de Sá-Carneiro...

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