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quinta-feira, 20 de setembro de 2012
O testemunho...
I - Ser
Num campo de silêncio,
onde pastam manhãs,
estou - sempre que sou.
Quis-me o campo por senda:
em meu lúcido passo,
entanto, lá não vou.
Atendo a um chamamento
feroz, tímido e brando:
são vozes maduras.
Toda recusa é vã:
asas me erguem, e sou.
Ser é resposta. E dói.
É um campo de silêncio:
oh! palpitante berço
e pasto roçagante
de infinitas manhãs
que se cantam nascidas
para a noite do mundo.
De silêncio, e contudo
ali se escuta a dor
crescer, fingida em relva.
Essa relva me sabe.
O coração é a boca
que se crispa a seu travo.
Pasto dor e silêncio
no campo onde sou.
II - Ter
Dor sofrida é salário.
O amargo que mastigo
transmuda-se na moeda
com que me cumpro e compro
o segredo fecundo
adormecido há invernos
na boca das auroras.
Para erguê-las ao campo
de silêncio onde pastam
- e de onde me chamaram -,
antes entrego as mãos
às lâminas de brasa
que me buscam, ferozes:
matutinos orvalhos,
serenos de idas tardes,
sepultos semivivos.
Com essa dor se cunha
a moeda em cuja efígie
vê-se o perfil dos anjos.
Meu salário é meu júbilo:
ao regressar-me, esplendem
alvíssaras profundas
no momento em que entrego
ao mundo - envolta em cânticos -
humilde sempremanhã.
III - Amar
No campo de silêncio
onde, existindo, sou,
não me retardo. Tardo
a ser, e quando sou
- sou pouco. O muito é a dor.
As têmporas estalam.
O tempo que ficou
e, aquém de mim, me espera
reclama o existir turvo.
Então, perdido, torno,
a caminho transbordo,
transvio-me de mim:
quando chego, sou pouco.
Crestam-me a vida vã
saudades de ter sido.
A dor é eco longínquo
de grito soterrado.
O ser é estrela extinta,
lua de treva em céu
já desabado, pedra
lavada pela chuva.
Permaneço, contudo,
e comigo a amargura,
quando o amor é o caminho
que em mim se faz e faz-me
correr ao campo branco
onde alvoradas sonham,
onde me espera o pasto
onde a fome fareja
a dor antiga, eterna:
dor esplêndida e dura
- dor de ser e de amar.
Porque de amar, perdura.
E trago dessa viagem
uma treva mais doce
para a noite do mundo.
Às vezes é uma aurora
que me aclara também:
e vejo em amargor
a face que me coube,
a face dessa noite
noite tão noite e fria
que é minha e de meu mundo,
ai, mundo meu não mundo,
perdido, em pranto, e pouco.
O muito em mim, e grande,
e sofredor grandioso
- só mesmo o coração:
pois nele cabe Deus...
.
.
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Thiago de Mello...
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