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sexta-feira, 20 de julho de 2012
A Morte Devagar...
Morre lentamente quem não troca de idéias,
não troca de discurso, evita as próprias contradições.
Morre lentamente quem vira escravo do hábito,
repetindo todos os dias o mesmo trajeto e as mesmas
compras no supermercado.
Quem não troca de marca, não arrisca vestir uma cor
nova, não dá papo para quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru e
seu parceiro diário.
Muitos não podem comprar um livro ou uma entrada
de cinema, mas muitos podem, e ainda assim alienam-se
diante de um tubo de imagens que traz informação e
entretenimento, mas que não deveria, mesmo com
apenas 14 polegadas, ocupar tanto espaço em uma vida.
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere
o preto no branco e os pingos nos is a um turbilhão de
emoções indomáveis, justamente as que resgatam brilho
nos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz
no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de
um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos
conselhos sensatos.
Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não
ouve música, quem não acha graça de si mesmo.
Morre lentamente quem destrói seu amor-próprio.
Pode ser depressão, que é doença séria e requer ajuda
profissional.
Então fenece a cada dia quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem não trabalha e quem não estuda,
e na maioria das vezes isso não é opção e, sim, destino:
então um governo omisso pode matar lentamente uma boa
parcela da população.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má
sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projeto antes
de iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto que desconhece
e não respondendo quando lhe indagam o que sabe.
Morre muita gente lentamente, e esta é a morte mais ingrata e
traiçoeira, pois quando ela se aproxima de verdade, aí já
estamos muito destreinados para percorrer o pouco tempo restante.
Que amanhã, portanto, demore muito para ser o nosso dia.
Já que não podemos evitar um final repentino, que ao menos
evitemos a morte em suaves prestações, lembrando sempre
que estar vivo exige um esforço bem maior do que simplesmente respirar...
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Martha Medeiros...
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