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terça-feira, 24 de julho de 2012

Ordem nº 2 ao Exército das Artes...



A vós

- barítonos redondos -

cuja voz

desde Adão até a nossa era

nos atros buracos chamados teatros

estronda o ribombo lírico de árias.


A vós

- pintores -

cavalos cevados,

rumino-relinchante galardão eslavo,

no fundo dos estúdios, cediços como dragos,

pintando anatomias e quadros de flores.


A vós

rugas na testa entre fólios de mística

- micro-futurista,

- imagista,

- acméistas-

emaranhados no aranhol das rimas.


A vós -

descabelando cabelos bem-penteados,

barganhando escarpins por solados,

vates do Proletcult,

remendões do fraque velho de Púchkin.


A vós -

bailadores, sopradores de flauta,

amolecendo às claras

ou em furtivas faltas,

e figurando o futuro nos termos

de um imenso quinhão acadêmico.


A vós todos

eu -

que acabei com berloques e dou duro na Rosta -

gênio ou não gênio, tenho

a dizer: basta!

Abaixo com isso,

antes que vos abata o coice dos fuzis.


Basta!

Abaixo,

cuspi

no rimário,

nas árias,

nos róseos açafates

e mais minincolias

do arsenal das artes.

Quem se interessa

por ninharias

como estas: "Ah pobre coitado!


Quanto amou sem ter sido amado...?

Artífices,

é o que o tempo exige,

e não sermonistas de juba.


Ouvi

o gemido das locomotivas,

que lufa das frinchas, do chão:


"Dai-nos, companheiros,

carvão do Don!

ao depósito, vamos,

serralheiros,

mecânicos!"


À nascente dos rios,

deitados com furos nas costas,

- Petróleo de Baku! - pedem navios

uivando nas docas.


Perdidos em disputas monótonas,

buscamos o sentido secreto,

quando um clamor sacode os objetivos:

"Dai-nos novas formas!"


Não há mais tolos boquiabertos,

esperando a palavra do "mestre".


"Dai-nos, camaradas, uma arte nova

- nova -

que arranque a republica da escória...
.
.
.
Vladimir Mayakovski...

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