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terça-feira, 24 de julho de 2012

A cidade antiga...



Houve tempo em que a cidade tinha pêlo na axila

E em que os parques usavam cinto de castidade

As gaivotas do Pharoux não contavam em absoluto

Com a posterior invenção dos kamikazes

De resto, a metrópole era inexpugnável

Com Joãozinho da Lapa e Ataliba de Lara.


Houve tempo em que se dizia: LU-GO-LI-NA

U, loura; O, morena; I, ruiva; A, mulata!

Vogais! tônico para o cabelo da poesia

Já escrevi, certa vez, vossa triste balada

Entre os minuetos sutis do comércio imediato

As portadoras de êxtase e de permanganato!


Houve um tempo em que um morro era apenas um morro

E não um camelô de colete brilhante

Piscando intermitente o grito de socorro

Da livre concorrência: um pequeno gigante

Que nunca se curvava, ou somente nos dias

Em que o Melo Maluco praticava acrobacias.


Houve tempo em que se exclamava: Asfalto!

Em que se comentava: Verso livre! com receio...

Em que, para se mostrar, alguém dizia alto:

"Então às seis, sob a marquise do Passeio..."

Em que se ia ver a bem-amada sepulcral

Decompor o espectro de um sorvete na Paschoal


Houve tempo em que o amor era melancolia

E a tuberculose se chamava consumpção

De geométrico na cidade só existia

A palamenta dos ioles, de manhã...

Mas em compensação, que abundância de tudo!

Água, sonhos, marfim, nádegas, pão, veludo!


Houve tempo em que apareceu diante do espelho

A flapper cheia de it, a esfuziante miss

A boca em coração, a saia acima do joelho

Sempre a tremelicar os ombros e os quadris

Nos shimmies: a mulher moderna... Ó Nancy! Ó Nita!

Que vos transformastes em dízima infinita...


Houve tempo... e em verdade eu vos digo: havia tempo

Tempo para a peteca e tempo para o soneto

Tempo para trabalhar e para dar tempo ao tempo

Tempo para envelhecer sem ficar obsoleto...

Eis por que, para que volte o tempo, e o sonho, e a rima

Eu fiz, de humor irônico, esta poesia acima...
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Vinicius de Moraes...

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