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domingo, 5 de agosto de 2012

Verão...


Este fevereiro azul

como a chama da paixão

nascido com a morte certa

com prevista duração

deflagra suas manhãs

sobre as montanhas e o mar

com o desatino de tudo

que está para se acabar.

A carne de fevereiro

tem o sabor suicida

de coisa que está vivendo

vivendo mas já perdida.

Mas como tudo que vive

não desiste de viver,

fevereiro não desiste:

vai morrer, não quer morrer.

E a luta de resistência

se trava em todo lugar:

por cima dos edifícios

por sobre as águas do mar.

O vento que empurra a tarde

arrasta a fera ferida,

rasga-lhe o corpo de nuvens,

dessangra-a sobre a Avenida

Vieira Souto e o Arpoador

numa ampla hemorragia.

Suja de sangue as montanhas,

tinge as águas da baía.

E nesse esquartejamento

a que outros chamam verão,

fevereiro ainda em agonia

resiste mordendo o chão.

Sim, fevereiro resiste

como uma fera ferida.

E essa esperança doida

que é o próprio nome da vida.

Vai morrer, não quer morrer.

Se apega a tudo que existe:

na areia, no mar, na relva,

no meu coração - resiste...
.
.
.
Ferreira Gullar...

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