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sábado, 11 de agosto de 2012

Galo Galo...


O galo

no salão quieto.


Galo galo

de alarmante crista, guerreiro,

medieval.


De córneo bico e

esporões, armado

contra a morte,

passeia.


Mede os passos. Pára.

Inclina a cabeça coroada

dentro do silêncio:


— que faço entre coisas ?


— de que me defendo ?


Anda.

No saguão.

O cimento esquece

o seu último passo.


Galo: as penas que

florescem da carne silenciosa

e duro bico e as unhas e o olho

sem amor. Grave

solidez.

Em que se apóia

tal arquitetura ?


Saberá que, no centro

de seu corpo, um grito

se elabora ?

Como, porém, conter,

uma vez concluído,

o canto obrigatório ?


Eis que bate as asas, vai

morrer, encurva o vertiginoso pescoço

donde o canto rubro escoa


Mas a pedra, a tarde,

o próprio feroz galo

subsistem ao grito.


Vê-se: o canto é inútil.


O galo permanece — apesar

de todo o seu porte marcial —

só, desamparado,

num saguão do mundo.

Pobre ave guerreira!


Outro grito cresce

agora no sigilo

de seu corpo; grito

que, sem essas penas

e esporões e crista

e sobretudo sem esse olhar

de ódio,

não seria tão rouco

e sangrento


Grito, fruto obscuro

e extremo dessa árvore: galo.

Mas que, fora dele,

é mero complemento de auroras...
.
.
.
Ferreira Gullar...

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