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quinta-feira, 23 de agosto de 2012

A perdida esperança...


De posse deste amor que é, no entanto, impossível

Este amor esperado e antigo como as pedras

Eu encouraçarei o meu corpo impassível

E à minha volta erguerei um alto muro de pedras.


E enquanto perdurar tua ausência, que é eterna

Por isso que és mulher, mesmo sendo só minha

Eu viverei trancado em mim como no inferno

Queimando minha carne até sua própria cinza.


Mas permanecerei imutável e austero

Certo de que, de amor, sei o que ninguém soube

Como uma estátua prisioneira de um castelo

A mirar sempre além do tempo que lhe coube.


E isento ficarei das antigas amadas

Que, pela Lua cheia, em rápidas sortidas

Ainda vêm me atirar flechas envenenadas

Para depois beber-me o sangue das feridas.


E assim serei intacto, e assim serei tranqüilo

E assim não sofrerei da angústia de revê-las

Quando, tristes e fiéis como lobas no cio

Se puserem a rondar meu castelo de estrelas.


E muito crescerei em alta melancolia

Todo o canto meu, como o de Orfeu pregresso

Será tão claro, de uma tão simples poesia

Que há de pacificar as feras do deserto.


Farto de saber ler, saberei ver nos astros

A brilharem no azul da abóbada no Oriente

E beijarei a terra, a caminhar de rastros

Quando a Lua no céu contar teu rosto ausente.


Eu te protegerei contra o Íncubo

Que te espreita por trás da Aurora acorrentada

E contra a legião dos monstros do Poente

Que te querem matar, ó impossível amada!...
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Vinicius de Moraes...

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