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quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Pecado Original...


Ah, quem escreverá a história do que poderia ter sido?

Será essa, se alguém a escrever,

A verdadeira história da Humanidade.


O que há é só o mundo verdadeiro, não é nós, só o mundo;

O que não há somos nós, e a verdade está aí.


Sou quem falhei ser.

Somos todos quem nos supusemos.

A nossa realidade é o que não conseguimos nunca.


Que é daquela nossa verdade — o sonho à janela da infância?

Que é daquela nossa certeza — o propósito a mesa de depois?


Medito, a cabeça curvada contra as mãos sobrepostas

Sobre o parapeito alto da janela de sacada,

Sentado de lado numa cadeira, depois de jantar.


Que é da minha realidade, que só tenho a vida?

Que é de mim, que sou só quem existo?


Quantos Césares fui!


Na alma, e com alguma verdade;

Na imaginação, e com alguma justiça;

Na inteligência, e com alguma razão

— Meu Deus! meu Deus! meu Deus!

Quantos Césares fui!

Quantos Césares fui!

Quantos Césares fui!...
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Álvaro de Campos, um dos heterônimos de
Fernando Pessoa...

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