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segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Um homem ri...


Ele ria da cintura para cima. Abaixo

da cintura, atrás, sua mão

furtiva

inspecionava na roupa

Na frente e sobretudo no rosto, ele ria,

expelia um clarão, um sumo

servil

feito uma flor carnívora se esforça na beleza da corola

na doçura do mel

Atrás dessa auréola, saindo

dela feito um galho, descia o braço

com a mão e os dedos

e à altura das nádegas trabalhavam

no brim azul das calças

(como um animal no campo na primavera

visto de longe, mas

visto de perto, o focinho, sinistro,

de calor e osso, come o capim do chão)

O homem lançava o riso como o polvo lança a sua tinta e foge

Mas a mão buscava o cós da cueca

talvez desabotoada

um calombo que coçava

uma pulga sob a roupa

qualquer coisa que fazia a vida pior...
.
.
.
Ferreira Gullar...

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