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domingo, 6 de maio de 2012

Doçura...



Nasci dura, heróica, solitária e em pé.

E encontrei meu contraponto na paisagem

sem pitoresco e sem beleza.

A feiúra é o meu estandarte de guerra.

Eu amo o feio com um amor de igual para igual.

E desafio a morte.

Eu - eu sou a minha própria morte.

E ninguém vai mais longe.

O que há de bárbaro em mim

procura o bárbaro e cruel fora de mim.

Vejo em claros e escuros os rostos das pessoas que vacilam às chamas da fogueira.

Sou uma árvore que arde com duro prazer.

Só uma doçura me possui:

a conivência com o mundo.

Eu amo a minha cruz,

a que doloridamente carrego.

É o mínimo que posso fazer de minha vida:

aceitar comiseravelmente o sacrifício da noite...
.
.
.
Clarice Lispector...

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