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quinta-feira, 31 de maio de 2012

'A Máquina'...



E foi mesmo na frente da igreja que a vida de Antônio deu uma volta
medonha, pois, no que viu Karina, seu coração disse pra sua cabeça,
vá, e sua cabeça disse pra sua coragem, vou, e sua coragem respondeu,
vou nada, mas sua boca não ouviu e beijou Karina bem ali, no meio da
praça, e a boca de Karina não disse não, e nem poderia, pois estava por
demais ocupada.

Daí pra frente se sucederam muitas noites de festa e muitas outras de
desgraça tanto no coração dele como no dela, pois a graça do amor
é justamente esse emperrado.

Quer, não quer, pode, não pode, quer mas não pode, pode mas não
quer, um passa a querer o que o outro desquer e esse só vai querer
novamente com a desquerência do outro.

O fato é que, foi, não foi, Karina e Antônio foram destrocando juras
para lá e para cá, cada vez mais muitas, e Nordestina acabou se acostumando
com aquelas palavras de amor passeando pelas ruas até não sei que horas da
madrugada.

O nome de Antônio e Karina passara a só andar juntos na boca do povo.

Lá vêm Karina e Antônio, lá vão eles.

A palavra sempre lhes servia de acompanhante.

Os dois não se afastavam nem nas frases, nem nos cantos, nem mesmo
no pensamento.

Seus olhos também não se afastavam nunca, os dele dos dela, os dela
dos dele, nem as bocas e nem as mãos.

Os pedaços de um foram descobrindo os pedaços do outro, por partes,
até chegar a hora em que cada pedaço de um conhecia o outro inteiro.

Karina nunca tinha visto isso nem em filme.

Não daquele jeito.

Antônio também desconhecia esse negócio que dá dentro da pessoa nessa hora.

Um negócio que só tem vantagem, uma atrás da outra, e bastam apenas
dois para senti-lo, mais nada, podia existir coisa melhor na vida?

Na noite em que Antônio e Karina viraram um só de vez, quando todos
os pedaços dos dois, sem faltar nenhum, se ajeitaram num mesmo espaço,
e as duas bocas, enquanto separadas, murmuraram bobagens importantíssimas,
e os dois pensamentos conheceram juntos lugares que não existem, coincidiu que
a lua também estava cheia.

E se a lua estava cheia, a noite também devia estar se sentindo o máximo...
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Trecho do Livro 'A Máquina'...Adriana Falcão...

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