Pesquisar este blog

Meus Vídeos...

sábado, 15 de setembro de 2012

Não se mate...


Carlos, sossegue, o amor

é isso que você está vendo:

hoje beija, amanhã não beija,

depois de amanhã é domingo

e segunda-feira ninguém sabe

o que será.

Inútil você resistir

ou mesmo suicidar-se.


Não se mate, oh não se mate,


Reserve-se todo para

as bodas que ninguém sabe

quando virão,

se é que virão.


O amor, Carlos, você telúrico,

a noite passou em você,

e os recalques se sublimando,

lá dentro um barulho inefável,

rezas,

vitrolas,

santos que se persignam,

anúncios do melhor sabão,

barulho que ninguém sabe

de quê, praquê.


Entretanto você caminha

melancólico e vertical.

Você é a palmeira, você é o grito

que ninguém ouviu no teatro

e as luzes todas se apagam.


O amor no escuro, não, no claro,

é sempre triste, meu filho, Carlos,

mas não diga nada a ninguém,

ninguém sabe nem saberá...
.
.
.
Carlos Drummond de Andrade...

Nenhum comentário:

Postar um comentário