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quinta-feira, 13 de setembro de 2012

A Outra...


Amamos sempre no que temos

O que não temos quando amamos.

O barco pára, largo os remos,

E, um a outro, as mãos nos damos.

A quem dou as mãos?

À Outra.


Teus beijos são de mel de boca,

São os que sempre pensei dar,

E agora a minha boca toca

A boca que eu sonhei beijar.

De quem é a boca?

Da Outra.


Os remos já cairam na água,

O barco faz o que a água quer.

Meus braços vingam minha mágoa

No abraço que enfim podem ter.

Quem abraço?

A Outra.


Bem sei, és bela, és quem desejei...

Não deixe a vida que eu deseje

Mais que o que pode ser teu beijo

O poder ser eu que te beije

Beijo, e em que eu penso?

Na Outra.


Os remos vão perdidos já,

o barco vai não sei para onde.

Que fresco o teu sorriso está,

Ah, meu amor, e o que ele esconde!

Que é do sorriso

Da Outra?


Ah, talvez mortos ambos nós,

Num outro rio sem lugar

Em outro barco outra vez sós

Possamos nós recomeçar

Que talvez sejas

A Outra.


Mas não, nem onde essa paisagem

É sob eterna luz eterna

Te acharei mais que alguém na viagem

Que amei com ansiedade terna

Por ser parecida

Com a Outra.


Ah, por ora, idos remo e rumo,

Dá-me as mãos, a boca, o teu ser.

Façamos dessa hora um resumo

Do que não poderemos ter.

Nesta hora, a única,

Sê a Outra...
.
.
.
Fernando Pessoa...

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