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sábado, 4 de agosto de 2012

O Poeta e a Rosa...( E com direito a passarinho)...


Ao ver uma rosa branca

O poeta disse: Que linda!

Cantarei sua beleza

Como ninguém nunca ainda!


Qual não é sua surpresa

Ao ver, à sua oração

A rosa branca ir ficando

Rubra de indignação.


É que a rosa, além de branca

(Diga-se isso a bem da rosa...)

Era da espécie mais franca

E da seiva mais raivosa.


– Que foi? – balbucia o poeta

E a rosa; – Calhorda que és!

Pára de olhar para cima!

Mira o que tens a teus pés!


E o poeta vê uma criança

Suja, esquálida, andrajosa

Comendo um torrão da terra

Que dera existência à rosa.


– São milhões! – a rosa berra

Milhões a morrer de fome

E tu, na tua vaidade

Querendo usar do meu nome!...


E num acesso de ira

Arranca as pétalas, lança-as

Fora, como a dar comida

A todas essas crianças.


O poeta baixa a cabeça.

– É aqui que a rosa respira...

Geme o vento. Morre a rosa.

E um passarinho que ouvira


Quietinho toda a disputa

Tira do galho uma reta

E ainda faz um cocozinho

Na cabeça do poeta...
.
.
.
Vinicius de Moraes...

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