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quarta-feira, 21 de março de 2012

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Quinta-feira, Setembro 28, 2006

Ah, a voz misteriosa no entardecer, quando o silêncio dela perturbava as horas do poeta.





Veinte poemas de amor y una canción desesperada

Poema 3



Ah vastedad de pinos, rumor de olas quebrándose,

lento juego de luces, campana solitaria,

crepúsculo cayendo en tus ojos, muñeca,

caracola terrestre, en ti la tierra canta!



En ti los ríos cantan y mi alma en ellos huye

como tú lo desees y hacia donde tú quieras.

Márcame mi camino en tu arco de esperanza

y soltaré en delirio mi bandada de flechas.



En torno a mí estoy viendo tu cintura de niebla

y tu silencio acosa mis horas perseguidas,

y eres tú con tus brazos de piedra transparente

donde mis besos anclan y mi húmeda ansia anida.



Ah tu voz misteriosa que el amor tiñe y dobla

en el atardecer resonante y muriendo!

Así en horas profundas sobre los campos he visto

doblarse las espigas en la boca del viento.



Pablo Neruda

(1904-1973)



Mais sobre Pablo Neruda em

http://pt.wikipedia.org/wiki/Pablo_Neruda

Postado por JOSE ANTONIO LEAO RAMOS às 21:02 1 comentários

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Marcadores: Pablo Neruda

Às vezes, tenho a impressão de que Drummond não era apenas um. Era também um outro, um que só ela conheceu.





A língua lambe



A língua lambe as pétalas vermelhas

da rosa pluriaberta; a língua lavra

certo oculto botão, e vai tecendo

lépidas variações de leves ritmos.

E lambe, lambilonga, lambilenta,

a licorina gruta cabeluda,

e, quanto mais lambente, mais ativa,

atinge o céu do céu, entre gemidos,

entre gritos, balidos e rugidos

de leões na floresta, enfurecidos.



Carlos Drummond de Andrade

(1902-1987)



Mais sobre Carlos Drummond de Andrade em

http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Drummond_de_Andrade

Postado por JOSE ANTONIO LEAO RAMOS às 20:55 0 comentários

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Marcadores: Carlos Drummond de Andrade

Quando a poesia foi posta em oposição à utopia, a culpa não foi dos versos. Foi do poeta, apenas um homem.





O utopista



Ele acredita que o chão é duro

Que todos os homens estão presos

Que há limites para a poesia

Que não há sorrisos nas crianças

Nem amor nas mulheres

Que só de pão vive o homem

Que não há um outro mundo.



Murilo Mendes

(1901-1975)



Mais sobre Murilo Mendes em

http://pt.wikipedia.org/wiki/Murilo_Mendes

Postado por JOSE ANTONIO LEAO RAMOS às 20:41 0 comentários

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Marcadores: Murilo Mendes

Com seus versos, o poeta entrou e saíu da cidade seguido por mulheres com ardentes promessas de amor. E as madrugadas de tudo foram testemunhas.





O poeta na madrugada



Quando o poeta chegou à cidade

A aurora vinha clareando o céu distante

E as primeiras mulheres passavam levando cântaros cheios.

Os olhos do poeta tinham as claridades da aurora

E ele cantou a beleza da nova madrugada.

As mulheres beijaram a fronte do poeta

E rogaram o seu amor.

O poeta sorriu.

Mostrou-lhes no céu claro o pássaro que voava

E disse que a visão da beleza era da poesia

O poeta tem a alegria que vive na luz

E tem a mocidade que nasce da luz.

As mulheres seguiram o poeta

Oferecendo a tristeza do seu amor e a alegria da sua carne

O poeta amou a carne das mulheres

Mas não envelheceu no amor que elas lhe davam.

O poeta quando ama

É como a flor que murcha sem seiva

Porque o amor do poeta

É a seiva do mundo

E se o poeta amasse

Ele não viveria eternamente jovem, brilhando na luz.



Quando a nova madrugada raiou no céu distante

O poeta já tinha partido

E seguindo o poeta as mulheres de peitos fartos e de cântaros cheios

Falavam de ardentes promessas de amor.



Vinícius de Moraes

(1913-1980)



Mais sobre Vinicius de Moraes em

http://pt.wikipedia.org/wiki/Vin%C3%ADcius_de_Moraes

Postado por JOSE ANTONIO LEAO RAMOS às 20:22 0 comentários

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Marcadores: Vinicius de Moraes

O Banzo matou milhares e milhares de escravos africanos. E ainda mata quem nessa vida ficar calado, dormente, pensando, sofrendo, chorando, morrendo.





Banzo



E por que deixou na areia do Congo

a aldeia de palmas;

e porque seus ídolos negros

não fazem mais feitiços;

e porque o homem branco o enganou com missangas

e atulhou o porão do navio negreiro

com seu desespero covarde;

e porque não vê mais de ânfora ao ombro

a imagem do conga nas águas do Kuango,

ele fica na porta da senzala

de mão no queixo e cachimbo na boca,

varado de angústia,

olhando o horizonte,

calado, dormente,

pensando,

sofrendo,

chorando.

morrendo.



Menotti Del Picchia

(1892-1988)



Mais sobre Menotti del Picchia em

http://pt.wikipedia.org/wiki/Menotti_Del_Picchia

Postado por JOSE ANTONIO LEAO RAMOS às 20:10 0 comentários

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Marcadores: Menotti Del Picchia

O eterno Manuel Bandeira sabia que a morte absoluta é aquela em que se morre tão completamente sem deixar sequer um nome.





A Morte absoluta



Morrer.

Morrer de corpo e de alma.

Completamente.



Morrer sem deixar o triste despojo da carne,

A exangue máscara de cera,

Cercada de flores,

Que apodrecerão - felizes! - num dia,

Banhada de lágrimas

Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.



Morrer sem deixar porventura uma alma errante...

A caminho do céu?

Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?



Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra,

A lembrança de uma sombra

Em nenhum coração, em nenhum pensamento,

Em nenhuma epiderme.



Morrer tão completamente

Que um dia ao lerem o teu nome num papel

Perguntem: "Quem foi?..."



Morrer mais completamente ainda,

- Sem deixar sequer esse nome.



Manuel Bandeira

(1886-1968)



Mais sobre Manuel Bandeira em

http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Bandeira

Postado por JOSE ANTONIO LEAO RAMOS às 00:05 0 comentários

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Marcadores: Manuel Bandeira

Quarta-feira, Setembro 27, 2006

Ele nunca a amou tanto. E ficou só, apenas com os pássaros e os seus gritos famintos na escuridão da noite.





I Never Loved You More



I never loved you more, ma soeur

Than as I walked away from you that evening.

The forest swallowed me, the blue forest, ma soeur

The blue forest and above it pale stars in the west.



I did not laugh, not one little bit, ma soeur

As I playfully walked towards a dark fate -

While the faces behind me

Slowly paled in the evening of the blue forest.



Everything was grand that one night, ma soeur

Never thereafter and never before -

I admit it: I was left with nothing but the big birds

And their hungry cries in the dark evening sky.



Bertolt Brecht

(1898-1956)



Mais sobre Bertolt Brecht em

http://en.wikipedia.org/wiki/Bertolt_Brecht ou

http://pt.wikipedia.org/wiki/Brecht

Postado por JOSE ANTONIO LEAO RAMOS às 23:45 0 comentários

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Marcadores: Bertolt Brecht

O Bocage sempre me surpreendeu, mas me encantou, confesso, o epitáfio encomendado para quando lá se perdesse a humanidade.





Lá quando em mim perder a humanidade



Lá quando em mim perder a humanidade

Mais um daqueles, que não fazem falta,

Verbi-gratia – o teólogo, o peralta,

Algum duque, ou marquês, ou conde, ou frade:



Não quero funeral comunidade,

que engrole sob-venites em voz alta;

Pingados gatarrões, gente de malta,

Eu também vos dispenso a caridade:



Mas quando ferrugenta enxada idosa

Sepulcro me cavar em ermo outeiro,

Lavre-me este epitáfio mão piedosa:"



Aqui dorme Bocage, o putanheiro:

Passou a vida folgada, e milagrosa:

Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro."



Manuel Maria Barbosa du Bocage, o Bocage.

(1765-1805)



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http://pt.wikipedia.org/wiki/Bocage

Postado por JOSE ANTONIO LEAO RAMOS às 23:13 0 comentários

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Marcadores: Manuel Maria Barbosa du Bocage

Para o poeta, cantigas para não morrer. Para tantos outros, apenas o silêncio ruidoso da morte que se aproxima, tão certa quanto implacável.





Cantiga para não morrer



Quando você for se embora,

moça branca como a neve,

me leve.

Se acaso você não possa

me carregar pela mão,

menina branca de neve,

me leve no coração.

Se no coração não possa

por acaso me levar,

moça de sonho e de neve,

me leve no seu lembrar.

E se aí também não possa

por tanta coisa que leve

já viva em seu pensamento,

menina branca de neve,

me leve no esquecimento.



Ferreira Gullar



Mais sobre Ferreira Gullar em

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ferreira_Gullar

Postado por JOSE ANTONIO LEAO RAMOS às 23:04 0 comentários

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Marcadores: Ferreira Gullar

Como pode ser bom o abraço da morte, como disse a Flor mais bela? Não sei o por quê, mas a idéia me fascina pelo absurdo de sua lógica.





À morte



Morte, minha Senhora Dona Morte,

Tão bom que deve ser o teu abraço!

Lânguido e doce como um doce laço

E como uma raiz, sereno e forte.



Não há mal que não sare ou não conforte

Tua mão que nos guia passo a passo,

Em ti, dentro de ti, no teu regaço

Não há triste destino nem má sorte.



Dona Morte dos dedos de veludo,

Fecha-me os olhos que já viram tudo!

Prende-me as asas que voaram tanto!



Vim da Moirama, sou filha de rei,

Má fada me encantou e aqui fiquei

À tua espera... quebra-me o encanto!



Florbela Espanca

(1894-1930)



Mais sobre Florbela Espanca em

http://pt.wikipedia.org/wiki/Florbela_Espanca



Postado por JOSE ANTONIO LEAO RAMOS às 22:51 1 comentários

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Marcadores: Florbela Espanca

Sábado, Setembro 16, 2006

No Jardim do Amor, estava escrito na porta da Capela, "Tu não podes". E ainda ataram com nó espinhoso os desejos e gozos do poeta.





The Garden of Love



I went to the Garden of Love,

And saw what I never had seen:

A Chapel was built in the midst,

Where I used to play on the green.

And the gates of this Chapel were shut,

And "Thou shalt not" writ over the door;

So I turned to the Garden of Love,

That so many sweet flowers bore;

And I saw it was filled with graves,

And tombstones where flowers should be;

And Priests in black gowns were walking their rounds,

And binding with briers my joys and desires.



William Blake

(1757-1827)



Mais sobre William Blake em

http://pt.wikipedia.org/wiki/William_Blake

Postado por JOSE ANTONIO LEAO RAMOS às 15:40 1 comentários

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Meus amigos, meus irmãos, dai morte à mulher morena, implorava o poeta em sua dor insana.





A volta da mulher morena



Meus amigos, meus irmãos, cegai os olhos da mulher morena

Que os olhos da mulher morena estão me envolvendo

E estão me despertando de noite.

Meus amigos, meus irmãos, cortai os lábios da mulher morena

Eles são maduros e úmidos e inquietos

E sabem tirar a volúpia de todos os frios.

Meus amigos, meus irmãos, e vós que amais a poesia da minha alma

Cortai os peitos da mulher morena

Que os peitos da mulher morena sufocam o meu sono

E trazem cores tristes para os meus olhos.

Jovem camponesa que me namoras quando eu passo nas tardes

Traze-me para o contato casto de tuas vestes

Salva-me dos braços da mulher morena

Eles são lassos, ficam estendidos imóveis ao longo de mim

São como raízes recendendo resina fresca

São como dois silêncios que me paralisam.

Aventureira do Rio da Vida, compra o meu corpo da mulher morena

Livra-me do seu ventre como a campina matinal

Livra-me do seu dorso como a água escorrendo fria.

Branca avozinha dos caminhos, reza para ir embora a mulher morena

Reza para murcharem as pernas da mulher morena

Reza para a velhice roer dentro da mulher morena

Que a mulher morena está encurvando os meus ombros

E está trazendo tosse má para o meu peito.

Meus amigos, meus irmãos, e vós todos que guardais ainda meus últimos cantos

Dai morte cruel à mulher morena!



Vinicius de Moraes

(1913-1980)



Mais sobre Vinicius de Moraes, em

http://pt.wikipedia.org/wiki/Vin%C3%ADcius_de_Moraes

Postado por JOSE ANTONIO LEAO RAMOS às 15:26 1 comentários

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Marcadores: Vinicius de Moraes

Sexta-feira, Setembro 15, 2006

Sou eu aqui em mim, sou eu mesmo, que remédio!.. Que triste e sincera a auto-imagem pintada pelo poeta.



Sou Eu



Sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo,

Espécie de acessório ou sobressalente próprio,

Arredores irregulares da minha emoção sincera,

Sou eu aqui em mim, sou eu.

Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou.

Quanto quis, quanto não quis, tudo isso me forma.

Quanto amei ou deixei de amar é a mesma saudade em mim.



E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco inconseqüente,

Como de um sonho formado sobre realidades mistas,

De me ter deixado, a mim, num banco de carro elétrico,

Para ser encontrado pelo acaso de quem se lhe ir sentar em cima.



E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco longínqua,

Como de um sonho que se quer lembrar na penumbra a que se acorda,

De haver melhor em mim do que eu.



Sim, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco dolorosa,

Como de um acordar sem sonhos para um dia de muitos credores,

De haver falhado tudo como tropeçar no capacho,

De haver embrulhado tudo como a mala sem as escovas,

De haver substituído qualquer coisa a mim algures na vida.



Baste! É a impressão um tanto ou quanto metafísica,

Como o sol pela última vez sobre a janela da casa a abandonar,

De que mais vale ser criança que querer compreender o mundo

- A impressão de pão com manteiga e brinquedos

De um grande sossego sem Jardins de Prosérpina,

De uma boa-vontade para com a vida encostada de testa à janela,

Num ver chover com som lá fora

E não as lágrimas mortas de custar a engolir.



Baste, sim baste! Sou eu mesmo, o trocado,

O emissário sem carta nem credenciais,

O palhaço sem riso, o bobo com o grande fato de outro,

A quem tinem as campainhas da cabeça

Como chocalhos pequenos de uma servidão em cima.



Sou eu mesmo, a charada sincopada

Que ninguém da roda decifra nos serões de província.



Sou eu mesmo, que remédio! ...



Álvaro de Campos, um dos heterônimos de

Fernando Pessoa.

(1888-1935)



Mais sobre Fernando Pessoa em

http://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Pessoa

Postado por JOSE ANTONIO LEAO RAMOS às 01:31 0 comentários

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Ela não mentiu gozo, prazer, lascívia. E ainda perguntou, por que haveria de querer minha alma na tua cama?





E por que haverias de querer...



E por que haverias de querer minha alma

Na tua cama?

Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas

Obscenas, porque era assim que gostávamos.

Mas não menti gozo prazer lascívia

Nem omiti que a alma está além, buscando

Aquele Outro. E te repito: por que haverias

De querer minha alma na tua cama?

Jubila-te da memória de coitos e de acertos.

Ou tenta-me de novo. Obriga-me.



Hilda Hilst

(1930-2004)



Mais sobre Hilda Hilst em

http://pt.wikipedia.org/wiki/Hilda_Hilst

Postado por JOSE ANTONIO LEAO RAMOS às 01:13 1 comentários

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Marcadores: Hilda Hilst

Quando a dor é um convento, ninguém ouve...ninguém vê...ningúem...





A minha dor



A minha Dor é um convento ideal

Cheio de claustros, sombras, arcarias,

Aonde a pedra em convulsões sombrias

Tem linhas dum requinte escultural.



Os sinos têm dobres de agonias

Ao gemer, comovidos, o seu mal...

E todos têm sons de funeral

Ao bater horas, no correr dos dias...



A minha Dor é um convento. Há lírios

Dum roxo macerado de martírios,

Tão belos como nunca os viu alguém!



Nesse triste convento aonde eu moro,

Noites e dias rezo e grito e choro,

E ninguém ouve...ninguém vê...ninguém...



Florbela Espanca

(1894-1930)



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http://pt.wikipedia.org/wiki/Florbela_Espanca

Postado por JOSE ANTONIO LEAO RAMOS às 01:03 0 comentários

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Marcadores: Florbela Espanca

Quinta-feira, Setembro 14, 2006

A noite dissolve os homens, mas o sangue doce que escorre tinge as pálidas faces da aurora. Para o poeta, um amanhã existe.





A noite dissolve os homens



A noite desceu. Que noite!

Já não enxergo meus irmãos.



E nem tão pouco os rumores que outrora me perturbavam.



A noite desceu.

Nas casas, nas ruas onde se combate,

nos campos desfalecidos, a noite espalhou o medo e a total incompreensão.



A noite caiu. Tremenda, sem esperança...

Os suspiros acusam a presença negra que paralisa os guerreiros.



E o amor não abre caminho na noite.

A noite é mortal, completa, sem reticências,

a noite dissolve os homens, diz que é inútil sofrer,

a noite dissolve as pátrias, apagou os almirantes cintilantes! nas suas fardas.



A noite anoiteceu tudo... O mundo não tem remédio...

Os suicidas tinham razão.



Aurora, entretanto eu te diviso,

ainda tímida, inexperiente das luzes que vais ascender

e dos bens que repartirás com todos os homens.



Sob o úmido véu de raivas, queixas e humilhações,

adivinho-te que sobes,

vapor róseo, expulsando a treva noturna.



O triste mundo fascista se decompõe ao contato de teus dedos,

teus dedos frios, que ainda se não modelaram mas que avançam na escuridão

como um sinal verde e peremptório.



Minha fadiga encontrará em ti o seu termo,

minha carne estremece na certeza de tua vinda.



O suor é um óleo suave, as mãos dos sobreviventes se enlaçam,

os corpos hirtos adquirem uma fluidez, uma inocência, um perdão simples e macio...



Havemos de amanhecer.

O mundo se tinge com as tintas da antemanhã

e o sangue que escorre é doce, de tão necessário para colorir tuas pálidas faces, aurora.



Carlos Drummond de Andrade

(1902-1987)



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Postado por JOSE ANTONIO LEAO RAMOS às 18:47 0 comentários

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Marcadores: Carlos Drummond de Andrade

Brecht lutou com a força das palavras para que todos os homens fossem livres. Porque só os livres sabem as respostas para as suas perguntas.





Questions From a Worker Who Reads



Who built Thebes of the seven gates?

In the books you will find the names of kings.

Did the kings haul up the lumps of rock?

And Babylon, many times demolished

Who raised it up so many times? In what houses

of gold-glittering Lima did the builders live?

Where, the evening that the Wall of China was finished

Did the masons go? Great Rome

Is full of triumphal arches. Who erected them? Over whom

Did the Caesars triumph? Had Byzantium, much praised in song

Only palaces for its inhabitants? Even in fabled Atlantis

The night the ocean engulfed it

The drowning still bawled for their slaves.



The young Alexander conquered India.

Was he alone?

Caesar beat the Gauls.

Did he not have even a cook with him?



Philip of Spain wept when his armada

Went down. Was he the only one to weep?

Frederick the Second won the Seven Year's War. Who

Else won it?



Every page a victory.

Who cooked the feast for the victors?

Every ten years a great man?

Who paid the bill?



So many reports.

So many questions.



Bertolt Brecht

(1898-1956)



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Postado por JOSE ANTONIO LEAO RAMOS às 17:33 0 comentários

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Marcadores: Bertolt Brecht

Terça-feira, Setembro 12, 2006

O crepúsculo caindo nos olhos dela e o silêncio que perturbava as horas do poeta.





Veinte poemas de amor y una canción desesperada



Poema 3



Ah vastedad de pinos, rumor de olas quebrándose,

lento juego de luces, campana solitaria,

crepúsculo cayendo en tus ojos, muñeca,

caracola terrestre, en ti la tierra canta!



En ti los ríos cantan y mi alma en ellos huye

como tú lo desees y hacia donde tú quieras.

Márcame mi camino en tu arco de esperanza

y soltaré en delirio mi bandada de flechas.



En torno a mí estoy viendo tu cintura de niebla

y tu silencio acosa mis horas perseguidas,

y eres tú con tus brazos de piedra transparente

donde mis besos anclan y mi húmeda ansia anida.



Ah tu voz misteriosa que el amor tiñe y dobla

en el atardecer resonante y muriendo!

Así en horas profundas sobre los campos he visto

doblarse las espigas en la boca del viento.



Pablo Neruda

(1904-1973)

http://pt.wikipedia.org/wiki/Pablo_Neruda

Postado por JOSE ANTONIO LEAO RAMOS às 18:03 2 comentários

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Dona Doida só melhora quando chove. Por que será?





Dona Doida

Uma vez, quando eu era menina, choveu grosso

com trovoadas e clarões, exatamente como chove agora.



Quando se pôde abrir as janelas,

as poças tremiam com os últimos pingos.



Minha mãe, como quem sabe que vai escrever um poema,

decidiu inspirada: chuchu novinho, angu, molho de ovos.



Fui buscar os chuchus e estou voltando agora,

trinta anos depois. Não encontrei minha mãe.



A mulher que me abriu a porta, riu de dona tão velha,

com sombrinha infantil e coxas à mostra.



Meus filhos me repudiaram envergonhados,

meu marido ficou triste até a morte,



eu fiquei doida no encalço.

Só melhoro quando chove.



Adélia Prado



Mais sobre Adélia Prado em



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Marcadores: Adélia Prado

Como seria boa a vida se os problemas fossem resolvidos por decreto. Leminski também sonhava com essa possibilidade impossível.





Bem no fundo



No fundo, no fundo,

Bem lá no fundo,

A gente gostaria

De ver nossos problemas

Resolvidos por Decreto



A partir desta data,

Aquela mágoa sem remédio

É considerada nula

E sobre ela - silêncio perpétuo



Extinto por lei todo o remorso,

Maldito seja quem olhar para trás,

Lá prá trás não há nada,

E nada mais



Mas os problemas não se resolvem,

problemas têm família grande,

E aos domingos saem todos passear

O problema, sua senhora

E outros pequenos probleminhas.



Paulo Leminski

(1944-1989)



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Marcadores: Paulo Leminski

Sábado, Setembro 09, 2006

Drummond não seria nunca o poeta de um mundo caduco. Para ele, a esperança era a vida presente.





Mãos Dadas



Não serei o poeta de um mundo caduco.

Também não cantarei o mundo futuro.

Estou preso à vida e olho meus companheiros

Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.

Entre eles, considere a enorme realidade.

O presente é tão grande, não nos afastemos.

Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.

não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.

não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.

não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,

a vida presente.



Carlos Drummond de Andrade

(1902-1987)



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Marcadores: Carlos Drummond de Andrade

A agonia do poeta ao despertar, vinha cheia do pavor das entranhas dela.





Agonia



No teu grande corpo branco depois eu fiquei.

Tinha os olhos lívidos e tive medo.

Já não havia sombra em ti - eras como um grande deserto de areia

Onde eu houvesse tombado após uma longa caminhada sem noites.

Na minha angústia eu buscava a paisagem calma

Que me havias dado tanto tempo

Mas tudo era estéril e mostruoso e sem vida

E teus seios eram dunas desfeitas pelo vendaval que passara.

Eu estremecia agonizando e procurava me erguer

Mas teu ventre era como areia movediça para os meus dedos.

Procurei ficar imóvel e orar, mas fui me afogando em ti mesma

Desaparecendo no teu ser disperso que se contraía como a voragem.



Depois foi o sono, o escuro, a morte.



Quando despertei era claro e eu tinha brotado novamente

Vinha cheio do pavor das tuas entranhas.



Vinicius de Moraes

(1913-1980)



Mais sobre Vinicius de Moraes em

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Marcadores: Vinicius de Moraes

Meu Deus, me dê coragem de viver sem a Tua presença. E perdoe meu pecado de pensar, implorou Clarice.





Meu Deus, me dê a coragem



Meu Deus, me dê a coragem

de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites,

todos vazios de Tua presença.

Me dê a coragem de considerar esse vazio

como uma plenitude.

Faça com que eu seja a Tua amante humilde,

entrelaçada a Ti em êxtase.

Faça com que eu possa falar

com este vazio tremendo

e receber como resposta

o amor materno que nutre e embala.

Faça com que eu tenha a coragem de Te amar,

sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo.

Faça com que a solidão não me destrua.

Faça com que minha solidão me sirva de companhia.

Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar.

Faça com que eu saiba ficar com o nada

e mesmo assim me sentir

como se estivesse plena de tudo.

Receba em teus braços

meu pecado de pensar.



Clarice Lispector

(1920-1977)



Mais sobre Clarice Lispector em

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Quem está morta é a morte. Mas ela diz, "Eu sou apenas a tua alma".





A morte é que está morta



Ela é aquela Princesa Adormecida

no seu claro jazigo de cristal.

Aquela a quem, um dia - enfim - despertarás...



E o que esperavas ser teu suspiro final

é o teu primeiro beijo nupcial!



- Mas como é que eu te receava tanto

(no teu encantamento lhe dirás)

e como podes ser assim - tão bela?

!Nas tantas buscas, em que me perdi,

vejo que cada amor tinha um pouco de ti...



E ela, sorrindo, compassiva e calma:



- E tu, por que é que me chamavas Morte?

Eu sou, apenas, tua Alma...



Mario Quintana

(1906-1994)



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O poeta, seu povo, seu poema. Menos canta do que planta.





Meu povo, meu poema



Meu povo e meu poema crescem juntos

como cresce no fruto

a árvore nova.



No povo meu poema vai nascendo

como no canavial

nasce verde o açúcar.



No povo meu poema está maduro

como o sol

na garganta do futuro.



Meu povo em meu poema

se reflete

como a espiga se funde em terra fértil.



Ao povo seu poema aqui devolvo

menos como quem canta

do que planta.



Ferreira Gullar



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Sexta-feira, Setembro 08, 2006

O que o outro não via, Hilda se via desejando um desejo vizinhante.





Aquele outro não via...



Aquele Outro não via minha muita amplidão

Nada lhe bastava. Nem ígneas cantigas.

E agora vã, te pareço soberba, magnífica

E fodes como quem morre a última conquista

E ardes como desejei arder de santidade.

(E há luz na tua carne e tu palpitas.)



Ah, por que me vejo vasta e inflexível

Desejando um desejo vizinhante

De uma Fome irada e obsessiva?



Hilda Hilst

(1930 - 2004)



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Muito bom em seu ofício de versejar, o poeta é meio fraquinho de cantada, não?





Cantada



Você é mais bonita que uma bola prateada

de papel de cigarro

Você é mais bonita que uma poça dágua

límpida

num lugar escondido

Você é mais bonita que uma zebra

que um filhote de onça

que um Boeing 707 em pleno ar

Você é mais bonita que um jardim florido

em frente ao mar em Ipanema

Você é mais bonita que uma refinaria da Petrobrás

de noitemais bonita que Ursula Andress

que o Palácio da Alvorada

mais bonita que a alvorada

que o mar azul-safira

da República Dominicana

Olha,

você é tão bonita quanto o Rio de Janeiro

em maio

e quase tão bonita

quanto a Revolução Cubana



Ferreira Gullar



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Em seu verso imenso de ansiedade, a doce e humilde escrava sonhava com um amor eterno por toda a eternidade.





Escrava



Ó meu Deus, ó meu dono, ó meu senhor,

Eu te saúdo, olhar do meu olhar,

Fala da minha boca a palpitar,

Gesto das minhas mãos tontas de amor!



Que te seja propício o astro e a flor,

Que a teus pés se incline a Terra e o Mar,

Plos séculos dos séculos sem par,

Ó meu Deus, ó meu dono, ó meu senhor!



Eu, doce e humilde escrava, te saúdo,

E, de mãos postas, em sentida prece,

Canto teus olhos de oiro e de veludo.



Ah! esse verso imenso de ansiedade,

Esse verso de amor que te fizesse

Ser eterno por toda a eternidade...



Florbela Espanca

(1894-1930)



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Blake chegou a ver anjos e querubins. Por isso, talvez, acreditasse na Terra dos Sonhos.





The Land of Dreams



Awake, awake my little Boy!

Thou wast thy Mother's only joy:

Why dost thou weep in thy gentle sleep?

Awake! thy Father does thee keep.



"O, what land is the Land of Dreams?

What are its mountains, and what are its streams?

O Father, I saw my Mother there,

Among the lillies by waters fair.



Among the lambs clothed in white

She walked with her Thomas in sweet delight.

I wept for joy, like a dove I mourn

- O when shall I return again?"



Dear child, I also by pleasant streams

Have wandered all night in the Land of Dreams;

But though calm and warm the waters wide,

I could not get to the other side.



"Father, O Father, what do we here,

In this land of unbelief and fear?

The Land of Dreams is better far

Above the light of the Morning Star."



William Blake

(1757-1827)



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Que pode uma criatura senão, entre criaturas, amar? Pergunta o poeta, que amava a água implícita, o beijo tácito e a sede infinita.





Amar



Que pode uma criatura senão,

entre criaturas, amar?

amar e esquecer,

amar e malamar,

amar, desamar, amar?

sempre, e até de olhos vidrados amar?



Que pode, pergunto, o ser amoroso,

sozinho, em rotação universal, senão

rodar também, e amar?

amar o que o mar traz à praia, o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,

é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?



Amar solenemente as palmas do deserto,

o que é entrega ou adoração expectante,

e amar o inóspito, o cru,

um vaso sem flor, um chão de ferro,

e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave

de rapina.Este o nosso destino: amor sem conta,

distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,

doação ilimitada a uma completa ingratidão,

e na concha vazia do amor a procura medrosa,

paciente, de mais e mais amor.



Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa

amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.



Carlos Drummond de Andrade

(1902-1987)



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O poeta pediu perdão à mulher amada porque tinha um sério compromisso com a sua luta. E conhecendo bem o homem, o que ele faria?





Mensagem à poesia



Não posso

Não é possível

Digam-lhe que é totalmente impossível

Agora não pode ser

É impossível

Não posso.



Digam-lhe que estou tristíssimo, mas não posso ir esta noite

ao seu encontro.

Contem-lhe que há milhões de corpos a enterrar

Muitas cidades a reerguer, muita pobreza pelo mundo

Contem-lhe que há uma criança chorando em alguma parte

do mundo

E as mulheres estão ficando loucas, e há legiões delas carpindo

A saudade de seus homens: contem-lhe que há um vácuo

Nos olhos dos párias, e sua magreza é extrema: contem-lhe

Que a vergonha, a desonra, o suicídio, rondam os lares, e é

preciso reconquistar a vida

Façam-lhe ver que é preciso eu estar alerta, voltado para todos

os caminhos

Pronto a socorrer, a amar, a mentir, a morrer se for preciso

Ponderem-lhe com cuidado - não a magoem... que se não vou

Não é porque não queira: ela sabe; é porque há um herói num

cárcere

Há um lavrador que foi agredido, há uma poça de sangue numa

praça.

Contem-lhe, bem em segredo, que eu devo estar prestes, que meus

Ombros não se devem curvar, que meus olhos não se devem

Deixar intimidar, que eu levo nas costas a desgraça dos homens

E não é o momento de parar agora; digam-lhe, no entanto

Que sofro muito, mas não posso mostrar meu sofrimento aos

Homens perplexos; digam-lhe que me foi dada

A terrível participação, e que possivelmente

Deverei enganar, fingir, falar com palavras alheias

Porque sei que há, longínqua, a claridade de uma aurora.

Se ela não compreender, oh, procurem convencê-la

Desse invencível dever que é o meu; mas digam-lhe

Que, no fundo, tudo o que estou dando é dela, e que me

Dói ter de despojá-la assim, neste poema; que por outro lado

Não devo usá-la em seu mistério: a hora é de esclarecimento

Nem debruçar-me sobre mim quando a meu lado

Há fome e mentira; e um pranto de criança sozinha

numa estrada

Junto a um cadáver de mãe; digam-lhe que há

Um náufrago no meio do oceano, um tirano no poder, um homem

Arrependido; digam-lhe que há uma casa vazia

Com um relógio batendo horas; digam-lhe que há um grande

Aumento de abismos na terra, há súplicas, há vociferações

Há fantasmas que me visitam de noite

E que me cumpre receber; contem a ela da minha certeza

No amanhã

Que sinto um sorriso no rosto invisível da noite

Vivo em tensão ante a expectativa do milagre; por isso

Peçam-lhe que tenha paciência, que não me chame agora

Com a sua voz de sombra; que não me faça sentir covarde

De ter de abandoná-la neste instante, em sua incomensurável

Solidão: peçam-lhe, oh peçam-lhe que se cale

Por um momento, que não me chame

Porque não posso ir

Não posso ir

Não posso.



Mas não a traí.

Em meu coração

Vive a sua imagem pertencida, e nada direi que possa

Envergonhá-la. A minha ausência

É também um sortilégio

Do seu amor por mim. Vivo do desejo de revê-la

Num mundo em paz: Minha paixão de homem

Resta comigo; minha solidão resta comigo; minha

Loucura resta comigo. Talvez eu deva

Morrer sem vê-la mais, sem sentir mais

O gosto de suas lágrimas, olhá-la correr

Livre e nua nas praias e nos céus

E nas ruas da minha insônia. Digam-lhe que é esse

O meu martírio; que às vezes

Pesa-me sobre a cabeça o tampo da eternidade e as poderosas

Forças da tragédia abatem-se sobre mim, e me impelem para a treva

Mas que eu devo resistir, que é preciso...

Mas que a amo com toda a pureza da minha passada adolescência

Com toda a violência das antigas horas de contemplação extática

Num amor cheio de renúncia. Oh, peçam a ela

Que me perdoe, ao seu triste e inconstante amigo

A que foi dado se perder de amor pelo seu semelhante

A que foi dado se perder de amor por uma pequena casa

Por um jardim de frente, por uma menininha de vermelho

A quem foi dado se perder de amor pelo direito

De todos terem uma pequena casa, um jardim de frente

E uma menininha de vermelho; e se perdendo

Ser-lhe doce perder-se...

Por isso convençam a ela, expliquem-lhe que é terrível

Peçam-lhe de joelhos que não me esqueça, que me ame

Que me espere, porque sou eu, apenas seu; mas que agora

É mais forte do que eu, não posso ir,

Não é possível

Me é totalmente impossível

Não pode ser não

É impossível

Não posso.



Vinicius de Moraes

(1913-1980)



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Quarta-feira, Setembro 06, 2006

Pouco antes da morte já anunciada, o homem não se conformava: "Vocês todos vivendo, seus f.d.p., só eu não". Este era o poeta Darcy Ribeiro.





Pressago



O presságio aí está, negro presságio.

A falar-me, silente, de dores por doer

Mais doídas que todas as dores já doídas.

A dor, talvez, de nunca mais doer.



Não são dores da carne. Não só.

Nem serão dores maiores, estertórias.

São dores da alma minha, balindo, trêmula.

Dores que, antes de doer, já me doem aqui, agora.



Que resta nesta vida por doer-me?

Já não doí minhas dores todas?

E a roda da dor, acaso, pára um dia?

Em que homem vivo, cansada, ela parou?



Esse temor pressago que me assalta

É o de perder o último, derradeiro, bem que tenho.

A vida aninhada no meu corpo.

Com o prodígio de gozar e de sofrer.



Que é o que temo, eu que nada temo?

A solidão, talvez, de uma eternidade fútil, inútil?

Qual! O que me arrasa é o terror pânico

De não mais ser, nem estar, jamais aí.



Vocês todos vivendo, seus f.d.p., só eu não.



Darcy Ribeiro

(1922-1997)



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No Manifesto Antropofágico, Oswald de Andrade já dizia que antes de os portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade.





Erro de Português



(...)

Quando o português chegou

Debaixo de uma bruta chuva

Vestiu o índio

Que pena!

Fosse uma manhã de sol

O índio tinha despido

O português.



Oswald de Andrade

(1890-1954)



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Para o Príncipe dos Poetas, só quem ama pode ser capaz de ouvir e entender estrelas.





Ouvir Estrelas



"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo

Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,

Que, para ouvi-las muita vez desperto

E abro as janelas, pálido de espanto...



E conversamos toda noite, enquanto

A Via Láctea, como um pálio aberto,

Cintila. E, ao vir o sol, saudoso e em pranto,

Inda as procuro pelo céu deserto.



Direis agora: "Tresloucado amigo!

Que conversas com elas? Que sentido

Tem o que dizes, quando não estão contigo?"



E eu vos direi: "Amai para entendê-las!

Pois só quem ama pode ter ouvido

Capaz de ouvir e de entender estrelas".



Olavo Bilac

(1865-1918)



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Terça-feira, Setembro 05, 2006

Nela viviam todas as vidas, em sua vida a vida mera das obscuras.





Todas as vidas



Vive dentro de mim

uma cabocla velha

de mau-olhado,

acocorada ao pé do borralho,

olhando pra o fogo.

Benze quebranto.

Bota feitiço...

Ogum. Orixá.

Macumba, terreiro.

Ogã, pai-de-santo...



Vive dentro de mim

a lavadeira do Rio Vermelho,

Seu cheiro gostoso

d’água e sabão.

Rodilha de pano.

Trouxa de roupa,

pedra de anil.

Sua coroa verde de são-caetano.



Vive dentro de mim

a mulher cozinheira.

Pimenta e cebola.

Quitute bem feito.

Panela de barro.

Taipa de lenha.

Cozinha antiga toda pretinha.

Bem cacheada de picumã.

Pedra pontuda.

Cumbuco de coco.

Pisando alho-sal.



Vive dentro de mim

a mulher do povo.

Bem proletária.

Bem linguaruda,

desabusada, sem preconceitos,

de casca-grossa,

de chinelinha,

e filharada.



Vive dentro de mim

a mulher roceira.

– Enxerto da terra,

meio casmurra.

Trabalhadeira.

Madrugadeira.

Analfabeta.

De pé no chão.

Bem parideira.

Bem criadeira.

Seus doze filhos.

Seus vinte netos.



Vive dentro de mim a mulher da vida.

Minha irmãzinha...

tão desprezada,

tão murmurada...

Fingindo alegre seu triste fado.



Todas as vidas dentro de mim:

Na minha vida –

a vida mera das obscuras.



Cora Coralina

(1889-1995)



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O poeta olha as suas mãos e se pergunta, quem faz - em mim - esta interrogação?





Olho as Minhas Mãos



Olho as minhas mãos: elas só não são estranhas

Porque são minhas. Mas é tão esquisito distendê-las

Assim, lentamente, como essas anêmonas do fundo do mar...

Fechá-las, de repente,

Os dedos como pétalas carnívoras !

Só apanho, porém, com elas, esse alimento impalpável do tempo,

Que me sustenta, e mata, e que vai secretando o pensamento

Como tecem as teias as aranhas.

A que mundo

Pertenço ?

No mundo há pedras, baobás, panteras,

Águas cantarolantes, o vento ventando

E no alto as nuvens improvisando sem cessar.

Mas nada, disso tudo, diz: "existo".

Porque apenas existem...

Enquanto isto,

O tempo engendra a morte, e a morte gera os deuses

E, cheios de esperança e medo,

Oficiamos rituais, inventamos

Palavras mágicas,

FazemosPoemas, pobres poemas

Que o vento

Mistura, confunde e dispersa no ar...

Nem na estrela do céu nem na estrela do mar

Foi este o fim da Criação !

Mas, então,

Quem urde eternamente a trama de tão velhos sonhos ?

Quem faz - em mim - esta interrogação ?



Mario Quintana

(1906-1994)



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Yeats e os sonhos dos Três Mendigos.





The Three Beggars



"Though to my feathers in the wet,

I have stood here from break of day.

I have not found a thing to eat,

For only rubbish comes my way.

Am I to live on lebeen-lone?

'Muttered the old crane of Gort.

"For all my pains on lebeen-lone?



'King Guaire walked amid his court

The palace-yard and river-side

And there to three old beggars said,

"You that have wandered far and wide

Can ravel out what's in my head.

Do men who least desire get most,

Or get the most who most desire?

'A beggar said, "They get the most

Whom man or devil cannot tire,

And what could make their muscles taut

Unless desire had made them so?

'But Guaire laughed with secret thought,

"If that be true as it seems true,

One of you three is a rich man,

For he shall have a thousand pounds

Who is first asleep, if but he can

Sleep before the third noon sounds."

And thereon, merry as a bird

With his old thoughts, King Guaire went

From river-side and palace-yard

And left them to their argument

."And if I win,' one beggar said,

'Though I am old I shall persuade

A pretty girl to share my bed';

The second: "I shall learn a trade';

The third: "I'll hurry' to the course

Among the other gentlemen,

And lay it all upon a horse';

The second: "I have thought again:

A farmer has more dignity.

'One to another sighed and cried:

The exorbitant dreams of beggary.

That idleness had borne to pride,

Sang through their teeth from noon to noon;

And when the second twilight brought

The frenzy of the beggars' moon

None closed his blood-shot eyes but sought

To keep his fellows from their sleep;

All shouted till their anger grew

And they were whirling in a heap.



They mauled and bit the whole night through;

They mauled and bit till the day shone;

They mauled and bit through all that day

And till another night had gone,

Or if they made a moment's stay

They sat upon their heels to rail,

And when old Guaire came and stood

Before the three to end this tale,

They were commingling lice and blood

"Time's up,' he cried, and all the three

With blood-shot eyes upon him stared.

"Time's up,' he eried, and all the three

Fell down upon the dust and snored.



`Maybe I shall be lucky yet,

Now they are silent,' said the crane.

`Though to my feathers in the wet

I've stood as I were made of stone

And seen the rubbish run about,

It's certain there are trout somewhere

And maybe I shall take a trout

but I do not seem to care.'



William Butler Yeats

(1865-1939)



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Domingo, Setembro 03, 2006

Fernando Pessoa escreveu este poema pensando em alguém. Quem sabe este alguém não é você?





Para onde vai a minha vida, e quem a leva?



Por que faço eu sempre o que não queria?

Que destino contínuo se passa em mim na treva?

Que parte de mim, que eu desconheço, é que me guia?



O meu destino tem um sentido e tem um jeito,

A minha vida segue uma rota e uma escala

Mas o consciente de mim é o esboço imperfeito

Daquilo que faço e sou: não me iguala



Não me compreendo nem no que, compreeendendo, faço.

Não atinjo o fim ao que faço pensando num fim.

É diferente do que é o prazer ou a dor que abraço.

Passo, mas comigo não passa um eu que há em mim.



Quem sou, senhor, na tua treva e no teu fumo?

Além da minha alma, que outra alma há na minha?

Por que me destes o sentimento de um rumo,

Se o rumo que busco não busco, se em mim nada caminha



Senão com um uso não meu dos meus passos, senão

Com um destino escondido de mim nos meus atos?

Para que sou consciente se a consciência é uma ilusão?

Que sou entre quê e os fatos?



Fechai-me os olhos, toldai-me a vista da alma!

Ó ilusões! Se eu nada sei de mim e da vida,

Ao menos eu goze esse nada, sem fé, mas com calma,

Ao menos durma viver, como uma praia esquecida..."



Fernando Pessoa

(1888-1935)



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http://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Pessoa

Postado por JOSE ANTONIO LEAO RAMOS às 06:10 0 comentários

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Ela perdeu um guinéu dourado na areia e um amigo. E criou uma obra-prima.



I had a guinea golden



I had a guinea golden;

I lost it in the sand,

And though the sum was simple,

And pounds were in the land,

Still had it such a value

Unto my frugal eye,

That when I could not find it

I sat me down to sigh.



I had a crimson robin

Who sang full many a day,

But when the woods were painted

He, too, did fly away.

Time brought me other robins,--

Their ballads were the same,--

Still for my missing troubadour

I kept the "house at hame."



I had a star in heaven;

One Pleiad was its name,

And when I was not heeding

It wandered from the same.

And though the skies are crowded,

And all the night ashine,

I do not care about it,

Since none of them are mine.



My story has a moral:

I have a missing friend,--

Pleiad its name, and robin,

And guinea in the sand,--

And when this mournful ditty,

Accompanied with tear,

Shall meet the eye of traitor

In country far from here,

Grant that repentance solemn

May seize upon his mind,

And he no consolation

Beneath the sun may find.





Emily Dickinson

(1830-1886)



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Garcia Lorca e La Monja Gitana. E os fascistas o executaram porque ele era considerado mais perigoso com a caneta do que outros com o revólver.





La Monja Gitana



Silencio de cal y mirto.

Malvas en las hierbas finas.

La monja borda alhelíes

sobre una tela pajiza.

Vuelan en la araña gris

siete pájaros del prisma.

La iglesia gruñe a lo lejos

como un oso panza arriba.

¡Que bien borda! ¡Con qué gracia!

Sobre la tela pajiza

ella quisiera bordar

flores de su fantasía.

¡Qué girasol! ¡Qué magnolia

de lentejuelas y cintas!

¡Qué azafranes y qué lunas,

en el mantel de la misa!

Cinco toronjas se endulzan

en la cercana cocina.

Las cinco llagas de Cristo

cortadas en Almería.

Por los ojos de la monja

galopan dos caballistas.

Un rumor último y sordo

le despega la camisa,

y al mirar nubes y montes

en las yertas lejanías,

se quiebra su corazón

de azúcar y yerbaluisa.

¡Oh, qué llanura empinada

con veinte soles arriba!

¡Qué ríos puestos de pie

vislumbra su fantasía

!Pero sigue con sus flores,

mientras que de pie, en la brisa,

la luz juega el ajedrez

alto de la celosía.



Federico Garcia Lorca

(1898-1936)



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Marcadores: Federico Garcia Lorca

Em um silêncio profundo, Clarice sentia se esconder sua imensa vontade de gritar.



Dá-me a tua mão



Dá-me a tua mão:

Vou agora te contar

como entrei no inexpressivo

que sempre foi a minha busca cega e secreta.

De como entrei

naquilo que existe entre o número um e o número dois,

de como vi a linha de mistério e fogo,

e que é linha sub-reptícia.

Entre duas notas de música existe uma nota,

entre dois fatos existe um fato,

entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam

existe um intervalo de espaço,

existe um sentir que é entre o sentir

- nos interstícios da matéria primordial

está a linha de mistério e fogo

que é a respiração do mundo,

e a respiração contínua do mundo

é aquilo que ouvimos e chamamos de silêncio

e nesse silêncio profundo se esconde

minha imensa vontade de gritar



Clarisse Lispector

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