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terça-feira, 10 de julho de 2012

Trottoir...


Minhas fantasias eróticas, sei agora,

eram fantasias do céu....

Eu pensava que sexo era a noite inteira

E só de manhãzinha os corpos despediam-se.

Para mim veio muito tarde

a revelação de que não somos anjos.

O rei tem uma paixão – dizem à boca pequena –

regozijo-me imaginando sua voz,

sua mão desvencilhando da fronte da pesada coroa:

Vem cá, há muito tempo não vejo uns olhos castanhos,

tenho estado em guerras...”

O rei desataviado,

com o seu sexo eriçável mas contido,

pertinaz como eu em produzir com voz,

mão e olhos quase estáticos , um vinho,

um sumo roxo, acre, meio doce,

embriaguez de um passeio entre as estrelas.

A voz apaixonada mais inclino os ouvidos,

aos pulsares, buracos negros no peito,

rápidos desmaios,

onde esta coisa pagã aparece luminescente:

com ervas de folhas redondinhas

um negro faz comida à beira do precipício.

À beira do sono, à beira do que não explico

brilha uma luz. E de afoita esperança

o salto do meu sapato no meio-fio

bate que bate...
.
.
.
Adélia Prado...

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