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terça-feira, 17 de julho de 2012

A brusca poesia da mulher amada (II)...


A mulher amada carrega o cetro, o seu fastígio

É máximo. A mulher amada é aquela que aponta para a noite

E de cujo seio surge a aurora. A mulher amada

É quem traça a curva do horizonte e dá linha ao movimento dos

astros.

Não há solidão sem que sobrevenha a mulher amada

Em seu acúmen. A mulher amada é o padrão índigo da cúpula

E o elemento verde antagônico. A mulher amada

É o tempo passado no tempo presente no tempo futuro

No sem tempo. A mulher amada é o navio submerso

É o tempo submerso, é a montanha imersa em líquen.

É o mar, é o mar, é o mar a mulher amada

E sua ausência. Longe, no fundo plácido da noite

Outra coisa não é senão o seio da mulher amada

Que ilumina a cegueira dos homens. Alta, tranqüila e trágica

É essa que eu chamo pelo nome de mulher amada.

Nascitura. Nascitura da mulher amada

É a mulher amada. A mulher amada é a mulher amada é a mulher

amada

É a mulher amada. Quem é que semeia o vento? – a mulher amada!

Quem colhe a tempestade? – a mulher amada!

Quem determina os meridianos? – a mulher amada!

Quem a misteriosa portadora de si mesma? A mulher amada.

Talvegue, estrela, petardo

Nada a não ser a mulher amada necessariamente amada

Quando! E de outro não seja, pois é ela

A coluna e o gral, a fé e o símbolo, implícita

Na criação. Por isso, seja ela! A ela o canto e a oferenda

O gozo e o privilégio, a taça erguida e o sangue do poeta

Correndo pelas ruas e iluminando as perplexidades.

Eia, a mulher amada! Seja ela o princípio e o fim de todas as coisas.

Poder geral, completo, absoluto à mulher amada!...
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Vinicius de Moraes...

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