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domingo, 1 de abril de 2012
Mórbida Indiferença...
Veio da Índia a frase do célebre poeta Rabindranath Tagore sobre por que existiam as crianças:
"São a eterna esperança de Deus nos homens".
Sentados à beira do rio, dois pescadores seguram suas varas à espera de um peixe.
De repente, gritos de crianças trincam o silêncio.
Assustam-se.
Olham para a frente, olham para trás. Nada.
Os berros continuam e vêm de onde menos esperam.
A correnteza trazia duas crianças pedindo socorro.
Os pescadores pulam na água.
Mal conseguem salvá-las com muito esforço, quando ouvem mais berros
e notam mais quatro crianças debatendo-se na água.
Desta vez, apenas duas são resgatadas.
Aturdidos, os dois ouvem uma gritaria ainda maior.
Dessa vez, oito crianças vindo correnteza abaixo.
Um dos pescadores vira as costas ao rio e começa a ir embora.
O amigo exclama:
- Você está louco, não vai me ajudar?
Sem deter o passo, ele responde:
- Faça o que puder.
Vou tentar descobrir quem está jogando as crianças no rio.
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Essa antiga lenda indiana retrata como nos sentimos no Brasil.
Temos poucos braços para tantos afogados.
Mal salvamos um e vários descem rio abaixo, numa corrente incessante
de apelos e mãos estendidas.
Somos obrigados a cair na água e, ao mesmo tempo, sair à procura de
quem joga as crianças.
Incrível como alguns homens às margens do rio conseguem conviver com
os berros.
E até dormir sem sobressaltos.
É como se não ouvissem.
Se o pior cego é aquele que não quer ver, o pior surdo é aquele que não quer escutar.
É gente que não conhece o prazer infinito da solidariedade.
Não conhece o encanto do estender poucos centímetros de braço e
encostar os dedos nas estrelas.
Tão fácil agarrar uma estrela, refletida no brilho dos olhos de quem salvamos
por falta de ar.
Por sorte temos pescadores que, dia após dia, mostram como as crianças
sobrevivem nos homens.
E como é doloroso o parto de um homem precoce no corpo de um menino...
E você está escutando os gritos ???...
.
.
.
Texto retirado do CD de Milton Nascimento...
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