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quarta-feira, 18 de abril de 2012

Os portadores de sonhos...


Em todas as profecias está prevista a destruição do mundo.


Todas as profecias dizem que o homem criará sua própria destruição.

Porém os séculos e a vida que sempre se renovam

criariam também uma geração de amantes e sonhadores;

homens e mulheres que não sonharam com a destruição do mundo,

e sim com a construção do mundo das mariposas e dos rouxinóis.

Desde pequeninos vinham marcados pelo amor.

Por trás de sua aparência cotidiana guardavam a ternura e o sol da meia-noite.

Suas mães os encontraram chorando por um pássaro morto

e mais tarde muitos foram encontrados mortos como pássaros.

Estes seres coabitaram com mulheres translúcidas

e elas ficaram prenhes de mel e de filhos reverdecidos por um inverno de carícias.

Foi assim que proliferaram no mundo os portadores de sonhos,

atacados ferozmente pelos portadores de profecias

que falavam de catástrofes.

Foram chamados iludidos, românticos, pensadores de utopias,

disseram que suas palavras eram velhas

e de fato eram porque a memória do paraíso é antiga no coração do homem...

Os acumuladores de riquezas os temiam

e lançavam seus exércitos contra eles,

mas os portadores de sonhos faziam amor todas as noites

e do seu ventre brotava a semente que não somente portava sonhos

mas que os multiplicavam e os fazia correr e falar.

E assim o mundo criou de novo a sua vida

da mesma forma que havia criado

os que inventaram a maneira de apagar o sol

Os portadores de sonhos sobreviveram aos climas gélidos

e nos climas quentes pareciam brotar por geração espontânea.

Quem sabe as palmeiras, os céus azuis, as chuvas torrenciais

tiveram a ver com isso, a verdade é que, como formiguinhas operárias

estes espécimes não deixavam de sonhar

e construir mundos formosos...

Mundo de irmãos, de homens e mulheres que se chamavam companheiros,

que se ensinavam a ler uns aos outros, consolavam-se diante da morte,

se curavam e se ajudavam na arte de querer e na defesa da felicidade.

Eram felizes em seu mundo de açúcar e de vento

e de todas as partes vinha gente impregnar-se de alento

e de suas claras percepções...

E de lá partiam os que os haviam conhecido portando sonhos,

sonhando com novas profecias

que falavam de tempos de mariposas e rouxinóis,

onde o mundo não haveria de findar na hecatombe

mas onde os cientistas desenhariam fontes, jardins,

brinquedos surpreendentes

para fazer mais gostosa a felicidade do homem.

São perigosos - imprimiam as grandes rotativas

São perigosos - diziam os presidentes em seus discursos

São perigosos - murmuravam os artífices da guerra

Devem ser destruídos - imprimiam as grandes rotativas

Devem ser destruídos - diziam os presidentes em seus discursos

Devem ser destruídos - murmuravam os artífices da guerra.

Os portadores de sonhos conheciam seu poder

e por isso nada achavam de estranho,

E sabiam também que a vida os havia criado

para proteger-se da morte que as profecias anunciam

E por isso defendiam sua vida até a morte!

E por isso cultivavam os jardins de sonhos

e os exportavam com grandes laços coloridos

e os profetas obscuros passavam noites e dias inteiros

vigiando as passagens e os caminhos

procurando essas cargas perigosas

que nunca conseguiram encontrar

porque quem não tem olhos para sonhar

não enxerga os sonhos nem de dia, nem de noite.

E no mundo sucedeu um grande tráfico de sonhos

que os traficantes da morte não podiam estancar;

em todas as partes há pacotes com laços de fita

que só esta nova raça de homens pode ver...

E a semente destes sonhos não se pode detectar

porque está envolta em corações vermelhos

ou em amplos vestidos de maternidade

onde pezinhos sonhadores sapateiam

nos ventres que os carregam.

Dizem que a terra depois de os haver parido

desencadeou um céu de arco-íris

e soprou de fecundidade as raízes das árvores.

Nós sabemos que os vimos

Sabemos que a vida os criou

para proteger-se da morte que as profecias anunciam...
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Gioconda Belli...

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