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segunda-feira, 23 de abril de 2012

Poema obsceno...



Façam a festa

cantem e dancem

que eu faço o poema duro

o poema-murro

sujo

como a miséria brasileira

Não se detenham:

façam a festa

Bethânia Maninho

Clementina

Estação Primeira de Mangueira Salgueiro

gente de Vila Isabel e Madureira

todos

façam

a nossa festa

enquanto eu soco este pilão

este surdo

poema

que não toca no rádio

que o povo não cantará

(mas que nasce dele)

Não se prestará a análises estruturalistas

Não entrará nas antologias oficiais

Obsceno

como o salário de um trabalhador aposentado

o poema

terá o destino dos que habitam o lado escuro do país

- e espreitam...
.
.
.
Ferreira Gullar...

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