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domingo, 15 de abril de 2012

Lilitchka! Em lugar de uma carta...



Fumo de tabaco rói o ar

O quarto -

um capítulo do inferno de Krutchônikh.*

Recorda -

atrás desta janela

pela primeira vez

apertei tuas mãos, atônito.

Hoje te sentas,

no coração - aço.

Um dia mais

e me expulsarás,

talvez, com zanga.

No teu hall escuro longamente o braço,

trêmulo, se recusa a a entrar na manga.

Sairei correndo,

lançarei meu corpo à rua.

Transtornado,

tornado

louco pelo desespero.

Não o consintas,

meu amor,

meu bem,

digamos até logo agora.

De qualquer forma

o meu amor

- duro fardo por certo -

pesará sobre ti

onde quer que te encontres.

Deixa que o fel da mágoa ressentida

num último grito estronde.

Quando um boi está morto de trabalho

ele se vai

e se deita na água fria.

Afora o teu amor

para mim

não há sol,

e eu não sei onde estás e com quem.

Se ela assim torturasse um poeta,

ele

trocaria sua amada por dinheiro e glória,

mas a mim

nenhum som me importa

afora o som do teu nome que eu adoro.

E não me lançarei no abismo,

e não beberei veneno,

e não poderei apertar na têmpora o gatilho.

Afora

o teu olhar

nenhuma lâmina me atrai com seu brilho.

Amanhã esquecerás

que eu te pus num pedestal,

que incendiei de amor uma alma livre,

e os dias vãos - rodopiante carnaval -

dispersarão as folhas dos meus livros....

Acaso as folhas secas destes versos

far te-ão parar,

respiração opressa?

Deixa-me ao menos

arrelvar numa última carícia

teu passo que se apressa...
.
.
.
Vladimir Maiakovsky...
(1893-1930)

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