No tempo em que ainda não havia luz eléctrica, mas
pouco faltava, quem quisesse trabalhar ou ler depois do Sol
posto alumiava-se com candeeiros de petróleo. Os mais
pobres, sem dinheiro para o petróleo, usavam velas de
sebo.
Era o caso do poeta da nossa história. Estava ele, à noite,
a escrever uns versos, iluminado apenas pela luz do luar e
pela chama incerta de uma velinha a finar-se, quando uma
nuvem interceptou a luz da Lua.
– Ai! – lamentou-se o poeta. – Não tarda que a vela
acabe. Como vou eu conseguir terminar o poema?
Abriu a janela e gritou:
– Vento, se és meu amigo, afasta a nuvem, para que o
luar volte a iluminar-me.O vento terá ouvido o pedido e rodopiou numa súbita
ventania. Tanta foi que soprou a vela do poeta. Ficou o
pobre às escuras.
– Vento, tu não percebeste o que te pedi – irritou-se o
poeta. – És um desastrado.
Do céu carregado de nuvens começou a cair uma valente
chuvada.
– Pronto. Não precisas de chorar. Ninguém é sempre
perfeito – disse o poeta ao vento.
Fechou a janela e, resignado, foi para a cama às
apalpadelas. Ficou o poema em meio. Não se perdia grande
coisa, que o poema valia pouco. Ninguém é sempre
perfeito...
FIM.... António Torrado.
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