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quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Voltas para casa...


Depois de um dia inteiro de trabalho

voltas para casa, cansado.

Já é noite em teu bairro e as mocinhas

de calças compridas desceram para a porta

após o jantar.

Os namorados vão ao cinema.

As empregadas surgem das entradas de serviço.

Caminhas na calçada escura.


Consumiste o dia numa sala fechada,

lidando com papéis e números.

Telefonasre, escreveste,

irritações e simpatias surgiram e desapareceram

no fluir dessas horas. E caminhas,

agora, vazio,

como se nada acontecera.


De fato, nada te acontece, exceto

talvez o estranho que te pisa o pé no elevador

e se desculpa.

Desde quando

tua vida parou? Falas dos desastres,

dos crimes, dos adultérios,

mas são leituras de jornal. Fremes

ao pensar em certo filme que viste: a vida,

a vida é bela!


A vida é bela

mas não a tua. Não a de Pedro,

de Antônio, de Jorge, de Júlio,

de Lúcia, de Míriam, de Luísa...


Às vezes pensas

com nostalgia

nos anos de guerra,

o horizonte de pólvora,

o cabrito. Mas a guerra

agora é outra. Caminhas.


Tua casa está ali. A janela

acesa no terceiro andar. As crianças

ainda não dormiram.

Terá o mundo de ser para elas

este logro? Não será

teu dever mudá-lo?


Apertas o botão da cigarra.

Amanhã ainda não será outra dia...
.
.
.
Ferreira Gullar...

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