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quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O Homem Perfeito...


A virtude subdivide-se em quatro aspectos:

refrear os desejos, dominar o medo, tomar

as decisões adequadas, dar a cada um o que lhe é devido.

Concebemos assim as noções de temperança, de coragem,

de prudência e de justiça, cada qual comportando os seus

deveres específicos.

A partir de quê, então, concebemos nós a virtude?

O que no-la revela é a ordem por ela própria estabelecida,

o decoro, a firmeza de princípios, a total harmonia de todos

os seus actos, a grandeza que a eleva acima de todas as contingências.

A partir daqui concebemos o ideal de uma vida feliz,

fluindo segundo um curso inalterável, com total domínio

sobre si mesma.

E como é que este ideal aparece aos nossos olhos?

Vou dizer-te.



O homem perfeito, possuidor da virtude, nunca se

queixa da fortuna, nunca aceita os acontecimentos de

mau humor, pelo contrário, convicto de ser um cidadão

do universo, um soldado pronto a tudo, aceita as dificuldades

como uma missão que lhes é confiada.

Não se revolta ante as desgraças como se elas fossem

um mal originado pelo azar, mas como uma tarefa de

que ele é encarregado. «Suceda o que suceder»,

 — diz ele — «o caso é comigo; por muito áspera e dura

que seja a situação, tenho de dar o meu melhor!

» Um homem que nunca se queixa dos seus males nem se

lamenta do destino, temos forçosamente de julgá-lo um grande homem!

Tal homem dá a conhecer a muitos outros a massa de que é feito,

brilha tal como um archote no meio das trevas, atrai para junto

de si todas as almas, dada a sua impassível tranquilidade, a sua

completa equanimidade para com o divino e o humano.

Tal homem possui uma alma perfeita, levada ao máximo das suas

potencialidades, tal que acima dela nada há senão a inteligência divina,

uma parte da qual, aliás, transitou até este peito mortal.

E nada há de mais divino para o homem do que meditar na sua

mortalidade, consciencializar-se de que o homem nasce para ao

fim de algum tempo deixar esta vida, perceber que o nosso corpo

não é uma morada fixa, mas uma estalagem onde só se pode permanecer

por breve tempo, uma estalagem de que é preciso sair quando

percebemos que estamos a ser pesados ao estalajadeiro...
.
.
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Séneca...

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