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sábado, 22 de dezembro de 2012

A construção...


Vem vindo José Maria,

vem de São Bento do Una,

vestido de roupa cáqui

e de botinas reiúnas.



No conselho de família,

só encontra a hierarquia

do avô cabo de polícia.


O pai na barbearia

do povoado trabalha,

mal completa o pagamento

da prestação da navalha.


Vem vindo José Maria,

o amarelinho de São Bento

do Una, sem genealogia.

Vem montado no jumento.

Saiu da escola. (Não tinha

nem livros nem fardamento.

Aprendeu a ler sozinho.)


Oh, que infância sem infância,

essa do José Maria!


Entrava na terra o casco

do seu cavalo de pau,

que o cabo da enxada era

a escoiceante montaria.

Tirava leite das vagas,

mas o leite não bebia.

Os animais da fazenda,

com que doçura os tangia!

Carregava areia e lenha

com o gosto do engenheiro

que uma obra construía.


Foi bicheiro e negociante

de passarinhos na feira.

Vendeu frutas e roletas

nas festas da Padroeira.

Lavou frascos na botica,

lavou os pratos do hotel,

fez os serviços miúdos

da casa do coronel.


- Pega o carneirinho mocho

para Jorginho montar.

- Vê se a novilha cinzenta

já voltou para o curral.

- Leva o peru para a ceia

do Doutor pelo Natal.


Ven vindo José Maria

vem de São Bento do Una,

vestido de roupa cáqui

e de botinas reiúnas.

Puxa ainda o seu jumento,

remexe nos caçuás.

Carrega barro e madeira

para a construção que faz

com alicerces na poesia

dos desesperos rurais...
.
.
.
Mauro Mota...

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