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quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Para cinquentões...


Carnaval, carne dada ao verme

(diz a falsa etmologia),

como pode o cronista inerme

cronicar em plena folia?


Como esquivar-se a teu império

que é serrano em Vila ou Mangueira,

se em mim ri aquilo que é sério,

e séria, mesmo, é a brincadeira?


Carnaval, já não sou tão moço

para esmilinguir-me no frevo

e sair de guizo ao pescoço

(riso, quatripétalo trevo),


Também inda não sou tão velho

que não ouça o ronco da cuíca.

E da razão o bom conselho

(má rima) não me mortifica.


Entre duas águas, meu caro,

meio-lá-meio-cá me sinto

como um animal semi-raro

divagando no labirinto.


Carnaval, magia do samba!

Fígado, fiscal do consumo...

Para dançar na corda bamba

tanto faz, serpentina, o rumo.


Não fugirei para a montanha,

nem pescarei na Marambaia,

pois ante confusão tamanha,

quedemos (Posto 6) na praia,


perto-longe da farra, ouvindo

e vendo, imaginando, enquanto

um carnaval muito mais lindo

dentro em nós eleva seu canto;


carnaval de delícias longas

e cabriolas arlequinais,

feito de caras songamongas

se esbaldando no nunca-mais;


carnaval antigo e futuro,

baile de outro Municipal

ou Praça 11 acesa no escuro

da saudade do carnaval.


E é o melhor de tudo, afinal...
.
.
.
Carlos Drummond de Andrade...

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