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quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Namoro a cavalo...


Eu moro em Catumbi. Mas a desgraça

Que rege minha vida malfadada

Pôs lá no fim da rua do Catete

A minha Dulcinéia namorada.


Alugo (três mil réis) por uma tarde

Um cavalo de trote (que esparrela!)

Só para erguer meus olhos suspirando

À minha namorada na janela...


Todo o meu ordenado vai-se em flores

E em lindas folhas de papel bordado

Onde eu escrevo trêmulo, amoroso,

Algum verso bonito... mas furtado.


Morro pela menina, junto dela

Nem ouso suspirar de acanhamento...

Se ela quisesse eu acabava a história

Como toda a Comédia — em casamento.


Ontem tinha chovido... que desgraça!

Eu ia a trote inglês ardendo em chama,

Mas lá vai senão quando uma carroça

Minhas roupas tafuis encheu de lama...


Eu não desanimei. Se Dom Quixote

No Rocinante erguendo a larga espada

Nunca voltou de medo, eu, mais valente,

Fui mesmo sujo ver a namorada...


Mas eis que no passar pelo sobrado

Onde habita nas lojas minha bela

Por ver-me tão lodoso ela irritada

Bateu-me sobre as ventas a janela...


O cavalo ignorante de namoros

Entre dentes tomou a bofetada,

Arrepia-se, pula, e dá-me um tombo

Com pernas para o ar, sobre a calçada...


Dei ao diabo os namoros. Escovado

Meu chapéu que sofrera no pagode

Dei de pernas corrido e cabisbaixo

E berrando de raiva como um bode.


Circunstância agravante. A calça inglesa

Rasgou-se no cair de meio a meio,

O sangue pelas ventas me corria

Em paga do amoroso devaneio!...
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Álvares de Azevedo...

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