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terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Simplesmente...


Em frente dos meus olhos, ela passa

Toda negra de crepes lutuosos

Os seus passos são leves, vigorosos;

No seu perfil há distinção, há raça.


Paris. Inverno e sol. Tarde gentil.

Crianças chilreantes deslizando...

Eu perco o meu olhar de quando em quando,

Olhando o azul, sorvendo o ar de abril.


...Agora sigo a sua silhueta

Até desapar'cer no boulevard,

E eu que não sou nem nunca fui poeta,

Estes versos começo a meditar.


Perfil perdido...Imaginariamente,

Vou conhecendo a sua vida inteira.

Sei que é honesta, sã, trabalhadeira,

E que o pai lhe morreu recentemente.


(Ah! como nesse instante a invejei,

Olhando a minha vida deplorável -

A ela, que era enérgica e prestável,

Eu, que até hoje nunca trabalhei!...)


A dor foi muito, muito grande. Entanto

Ela e a mãe souberam resistir...
.
.
.
Mário de Sá-Carneiro...

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