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domingo, 9 de dezembro de 2012

A terra...


Também eu quero abrir-te e semear

Um grão de poesia no teu seio!

Anda tudo a lavrar,

Tudo a enterrar centeio,

E são horas de eu pôr a germinar

A semente dos versos que granjeio.


Na seara madura de amanhã

Sem fronteiras nem dono,

Há de existir a praga da milhã,

A volúpia do sono

Da papoula vermelha e temporã,

E o alegre abandono

De uma cigarra vã.


Mas das asas que agite,

O poema que cante

Será graça e limite

Do pendão que levante

A fé que a tua força ressuscite!


Casou-nos Deus, o mito!

E cada imagem que me vem

É um gomo teu, ou um grito

Que eu apenas repito

Na melodia que o poema tem.


Terra, minha aliada

Na criação!

Seja fecunda a vessada,

Seja à tona do chão,

Nada fecundas, nada,

Que eu não fermente também de inspiração!


E por isso te rasgo de magia

E te lanço nos braços a colheita

Que hás de parir depois...

Poesia desfeita,

Fruto maduro de nós dois.


Terra, minha mulher!

Um amor é o aceno,

Outro a quentura que se quer

Dentro dum corpo nu, moreno!


A charrua das leivas não concebe

Uma bolota que não dê carvalhos;

A minha, planta orvalhos...

Água que a manhã bebe

No pudor dos atalhos.


Terra, minha canção!

Ode de pólo a pólo erguida

Pela beleza que não sabe a pão

Mas ao gosto da vida!...
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Miguel Torga...

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